Diário do Alentejo

Recordar Benvinda, um ícone imortal
Opinião

Recordar Benvinda, um ícone imortal

José Saúde

09 de junho 2024 - 08:00

Benvinda foi uma personagem inigualável que o povo sempre ovacionou! Assim sendo, é perfeitamente plausível que ao recordar Benvinda reafirmemos neste texto, mas com a estimável certeza, que ela fora, na realidade, um memorável ícone da cidade de Beja e do Desportivo. Senhora modesta e detentora de uma enorme altivez, a sua imagem manter-se-á viva em lembranças de pessoas que conheceram a saudosa personalidade.

Os piropos marotos faziam parte do seu “ADN” deveras brincalhão. Todos tratava com um gigantesco respeito e também não conheci criatura alguma que ousasse tirar dividendos da sua sincera simplicidade. Imperava o sentido do respeito mútuo. As anedotas proferidas em público eram vistoriadas de estéreis maldades, sabendo-se que o conteúdo do palavreado era dito com uma refinada graça e enquadrada com a harmonizada piada.

A laracha caía que nem luva branca no mais modesto indivíduo que, à época, se confrontava com a estigmatização social inserida na austera autoridade imposta pelo Estado Novo. A mítica Benvinda foi uma pessoa ímpar que a urbe bejense eternamente recordará. Alcançou um lugar supremo como adepta do Desportivo de Beja. Mulher de armas e de um coração imenso, usufruiu o condão em recrear-se a comer o “pão que o diabo amassou”, onde a infinidade de dificuldades impunha regras em lares cheios de nada. Os filhos (Natália, Dionísio e Eddie Branquinho) preencheram-lhe a vida.

Criou-os e fê-los adultos. Em épocas carnavalescas tinha sempre uma na manga. Os seus disfarces possuíam o condão da surpresa e os apetrechos aplicados com elegante delicadeza.

Nas ruas por onde caminhava a maneira como tratava os temas, independentemente de falar da natureza das coisas sem subterfúgios, deixava os transeuntes a rejubilar-se com entusiasmantes gargalhadas. Havia sempre uma nova. E o povão gostava.

Os jogadores do Desportivo eram tratados com distinta consideração e assumiam-se como “os meus meninos”. O emblemático clube estava-lhe na massa do sangue.

Nas bancadas a sua voz ouvia-se com um entusiasmo enorme e puxava, à sua bela maneira, pelos adeptos.

No interior das quatro linhas os jogadores empolgavam-se com os ditos da Benvinda. Ultimamente voltei a lançar um olhar para uma fotografia do Desportivo da época 1970/1971, sendo que a foto foi tirada no final de um jogo onde a turma local recebeu o Atlético Clube de Portugal e lá está registado a presença de Benvinda integrando, no final, a equipa, erguendo um cartaz que sinteticamente dizia: “Desportivo, vamos à Taça”. Ganhámos (3-1) e ficou a certeza que nessa época, onde eu próprio fazia parte do 11, o Desportivo foi considerado a equipa “tomba gigantes” da Taça, tendo em conta que defrontámos uma formação de escalão superior. Com a devida cortesia afirmo-o que a nossa notável e inesquecível Benvinda Paulino, natural de Salvada, foi, é e será sempre um ícone imortal numa cidade que jamais a esquecerá.

 

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