Os manuais escolares, os testes e as avaliações são apenas uma parte, o corredor público do edifício que liga formalmente os alunos aos professores. É preciso haver uma estrutura oficial que organize, valide e certifique conhecimentos. Esse papel cabe à escola enquanto organismo representativo de um sistema de ensino. Mas esqueça o que leu até aqui, o resto, tudo o que está sob a capa, tudo o que não está escrito, é mais profundo, mais emocional, mais excitante. Os alunos aparecem na primeira aula do ano letivo, são pequenos ainda, indivíduos em construção, ensaiando personalidades, uns mais ousados, outros mais tímidos, quase todos estranham as derivações para outras conversas, para outros temas, o afastamento da norma do sumário e do exercício e da sua correção, a princípio quase todos desconfiam do método de ouvir músicas e poesia, de falarmos sobre o que a escola não é e deveria ser, poderia ser, se não fôssemos todos tão rotineiros e tão ressentidos. Depois o tempo vai passando, os alunos vão crescendo, vão percebendo a complexidade da vida, vão trocando conteúdos por canções antigas, vão encontrando as soluções para os problemas na alma dos artistas, vão descobrindo o futuro nas palavras que se dizem agora. Não, os professores não conseguem ser pais, nem avós, longe deles tal atrevimento. Os professores apenas anseiam ser luzes no escuro da adolescência, colos na falta de carinho, mãos nas mãos perdidas, abraços no vazio do peito, caminhos na ausência de rumo. E os alunos são filhos que os professores trazem na memória para sempre.