Muito invejo eu os homens e as mulheres que não se maçam a pensar. A sorte deles foi nunca terem lido nada que os inquietasse, a grande literatura só desassossega, nada há nela que nos deixe em paz, se os livros nos deixarem serenos então é porque dentro deles não havia questões a resolver, nem encruzilhadas, nem existências perdidas. Os livros bonitos são um engano, a verdadeira beleza está na dor, na impossibilidade, no desconsolo, no absurdo, na irracionalidade, na busca incessante dos horizontes que se afastam.
Procurar um horizonte que se afasta é o princípio louco de quem pensa. As histórias perfeitas lêem-se e arrumam-se a um canto do cérebro que não pensa. Muito admiro eu quem não se gasta a perguntar, quem não se levanta depois de andar perdido uma noite inteira, quem não se deita depois de andar perdido um dia inteiro.
Cada dúvida que aprendemos é um peso dentro da cabeça, cada interrogação é um sofrimento a latejar dentro daquilo que está dentro da cabeça. Quem não pensa não sabe o que dói querer estar noutro sítio, ser outro, pelo menos ser diferente, nada ter a que possa chamar seu para além da única coisa que verdadeiramente lhe pertence: a vertigem de não se entender. As pessoas felizes pensam menos, as pessoas felizes têm horizontes no riso, as pessoas contentes não desesperam porque não sabem que os dias são vinte e quatro horas de inquietação. As pessoas satisfeitas dizem que quem tem um dia bom não os tem todos ruins. É de frases destas que eu preciso, os livros que eu adoro ainda não me levaram lado nenhum.