Diário do Alentejo

O 31 de janeiro
Opinião

O 31 de janeiro

José Saúde

01 de junho 2024 - 12:00

A história, no seu contexto geral, é um oceano de soberanas emoções! O 31 de janeiro de 1891 foi um levantamento militar que se opôs às cedências da coroa portuguesa, sendo que o âmago da questão era a deliberação que o mapa cor de rosa recomendava. Ou seja, no mapa constava um ultimato britânico, datado de 1890, que pretendia ligar, por terra, Angola e Moçambique. Mas o Partido Republicano, em que se destacavam célebres figuras como Teófilo Braga e Manuel Arriaga, de entre outros democratas, manifestou-se contra tal resolução, causando então uma desordem no reino, terminando a discórdia com a chamada “Revolta do Porto”.

O efeito da rebelião espalhou-se pelo País, os descontentamentos mexeram com o povo, tocou o sinal de alerta e pelo meio da confusão política eis que o vício do jogo da bola, modalidade trazida (em 1888) para Portugal pelos irmãos Pinto Bastos (Guilherme, Eduardo e Frederico), que estudavam num colégio particular em Liverpool, Inglaterra, ganhou dinâmica em solo lusitano. Neste contexto, agarrei-me à gesta cronológica lusa e trago à estampa um grupo que em Aldeia Nova de São Bento, em princípios da década de 1920, se formou e cujo nome atribuído à equipa foi o 31 de Janeiro, sendo o seu grande impulsionador Francisco Maria Valente.

Nessas antiquíssimas eras, existiam, ainda, na localidade, as formações do Enchapota, do Sem Cabeça e do Aldenovense Football Clube, agremiação em que José Morais Louro, o homem que em 1923 levou o vício do jogo para a aldeia assumindo-se como o principal dinamizador de um grupo de rapazes, cuja tertúlia tinha lugar na Sociedade Renascença. Patenteiam os anais das crónicas desportivas locais que os desafios entre o 31 de Janeiro, constituído com base em jovens operários oriundos de diversos ofícios, e o Aldenovense, emblema onde proliferavam os estudantes, eram renhidos. Num dérbi verificado nessas épocas, há um registo que refere os nomes dos jogadores das equipas e do respetivo juiz do campo.

Posto isto, trago ao conhecimento dos leitores a ficha do jogo num dérbi local dirigido pelo árbitro António Bica. Aldenovense: Pinheiro; Carrasco e Serrano; Jesus, Grilo e Hilário; Luís Barradas, Assis, Morais Louro, Mendes e José Barata. 31 de Janeiro: Lanita; Varela e Valente; Estevão, Nepomuceno e Santos; Sabala, Martins, Gustavo, Machuco e Pestana.

Neste desafio, a vitória (5-0) coube o Aldenovense. O campo de jogos terá sido numa courela localizada no rossio, próxima à antiga bica, local onde a população se abastecia de água potável para os seus lares, sendo o espaço cedido por Morais Louro, filho de um abastado lavrador. Nesse recinto, impregnado de ervas daninhas, terão ocorrido vários desafios, sendo um deles contra o 31 de Janeiro. Pedaços de histórias deslumbrantes de um passado que é, tão-só, uma antítese do presente.

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