Diário do Alentejo

Emoções
Opinião

Emoções

Vítor Encarnação, professor

26 de maio 2024 - 12:00

 Há alturas da nossa vida em que não gostamos de mostrar emoções em público. Não é apropriado, fragiliza-nos, expõe-nos demasiado, o que hão de os outros dizer, que figuras andamos nós a fazer. Nem sequer nos atrevemos a dizer que um filme ou um livro nos enterneceram, muito menos se confidencia uma lágrima.

Fomos criados assim, para mostrarmos força interior, desprendimento, racionalidade, e se formos homens isso ainda é mais notório. Ser sensível é ser lamechas, deixar que a sensibilidade nos guie é sinal de fraqueza. E para complementar essa herança cultural e genética há, acentuadamente numa determinada idade da nossa vida, uma aversão a essas sensações e um bloqueio a esses estímulos.

Há pessoas, que não conheço em privado, que são mestres na arte de ficarem empedernidos perante algo belo, triste, profundo. Nada neles se altera, nada no seu rosto se move para um sorriso, para um pequeno e discreto pranto de felicidade.

E há pessoas que se desmancham perante palavras, perante canções, perante abraços, se são assim em público, imagino como serão em privado. Cada vez gosto mais das pessoas que se desconstroem e não têm vergonha dos seus sentimentos e batem palmas e choram de alegria.

Talvez porque eu também vá ficando assim, mais assumidamente vulnerável, menos refém de uma construção social que quer pessoas fortes e racionais. Em privado sempre o fiz, sempre me entreguei às comoções, fossem elas boas ou más. Hoje já não tenho medo de mostrar os olhos marejados de lágrimas. A vida ensinou-me que termos uma pedra dentro do peito não serve para nada. 

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