Diário do Alentejo

Abril  e o desporto
Opinião

Abril e o desporto

José Saúde, jornalista

27 de abril 2024 - 12:00

Foi em Abril que floresceram os cravos da liberdade! Uma revolução, marcada pela serenidade, que outorgou a liberdade de um povo que pela calada da noite se deparou com aquele que fora o sempre inolvidável 25 de Abril de 1974. A população, até então literalmente amedrontada, viu chegar ao fim uma ditadura imposta pelas ecuménicas leis de um Estado Novo que assumia, indiscriminadamente, os mandatos da sua insípida gerência governamental. As três frentes de guerra – Angola, Moçambique e Guiné –, por onde passaram perto de milhão de combatentes e de que terão resultado 8831 mortos, cerca de 30 mil evacuações e perto de 100 mil feridos, assumiam-se como peso árduo para um regime que espalhava uma inflexível autoridade pelo mais inóspito lugar desta pátria lusitana. A dimensão desportiva era, na altura, ténue e as infraestruturas adaptadas às vãs circunstâncias existentes. Numa panóplia de acontecimentos observados por um povo em que a ditadura ditava severos desnivelamentos sociais, reconheça-se, no entanto, que as audácias dos capitães de Abril permitiram acabar com um “império” absoluto que originou o franquear de portas a pessoas que viviam encurraladas entre assimétricos muros. O Alentejo não fugiu às impiedosas normas vigentes, sendo certo que o fenómeno desportivo não passou isento a essas obscuras máculas. Somos de um tempo em que as condições para a prática das modalidades impunham limitações e os espaços, obsoletos, ditavam meros percalços. Os campos de futebol, por exemplo, eram usualmente pelados, assim como a fragilidade dos lugares comuns onde a rapaziada debitava imaculados prazeres atléticos que, naturalmente, acarretavam canseiras a jovens em plena idade de afirmação desportiva. É inevitável afirmar que a liberdade de Abril trouxe uma maior justeza a um cosmos desportivo que derrubou fronteiras e se colocou na linha da frente como uma justa causa que ousou conquistar uma infindável quantidade de atletas. Aqui, afirmar-lhes-emos, com a merecida inflexibilidade, que as autarquias não abdicaram da sua afirmação e eis o poder local ao serviço da população. Olhemos para o nosso distrito e examinemos os espaços desportivos que servem agora populações que antigamente não desfrutavam desses percetíveis espaços. Cidades, vilas e aldeias, ou outros recônditos lugares que se situam nesta imensa planície, usufruem hoje de excelentes infraestruturas que facultam um exercício atlético salutar para uma multidão de gentes que, independentemente da idade que o seu cartão de cidadão revela, são pessoas que gozam das possibilidades para uma saudável prática desportiva. Novos estádios relvados,  outros sintéticos, campos com infraestruturas condignas, pistas de atletismo em tartan, pavilhões bem equipados e multidisciplinares, piscinas, de entre outros os espaços conhecidos onde as práticas desportivas são conquistas que a liberdade de um Abril garantiu aos seus cidadãos. Abril e o desporto! 

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