Diário do Alentejo

Velhos tempos!
Opinião

Velhos tempos!

Velhos tempos!

25 de fevereiro 2024 - 21:00

Velhos tempos! Tempos que jamais se extinguirão das nossas memórias. Observamos esses tais velhos e notáveis tempos, sendo as lembranças desses idos imensas e que caem como límpidas águas de uma cascata, cuja grandeza mexe com as nossas autoestimas. O pessoal concentrava-se nas Portas de Mértola, o centro da cidade de Beja, e marchavam ruas abaixo a caminho do estádio municipal, denominado então como Eng.º José Frederico Ulrich, para assistir a mais um jogo de futebol do Desportivo de Beja que, à época, era aos domingos, às 15:00 horas. A multidão, pessoas que não perdiam a oportunidade para assistir ao vivo e a cores a um jogo onde o Desportivo atuava na segunda divisão nacional, e se afirmava como a emblemática coletividade futebolística da região, cruzava as ruas da Branca, dos Açoitados ou da Biscainha e, por fim, lá marchava avenida Vasco da Gama abaixo a caminho do palco dos sonhos. Depois, por entre uma apertada janela comprava-se o bilhete de ingresso ao recinto. Recorde-se que nesses tempos havia uma bilheteira para os sócios e uma outra para aqueles que não eram associados, acontecendo, por vezes, que a lotação se esgotava, havendo a necessidade do recurso do espetador a uma compra do dito cujo, mas através dos candongueiros que antes haviam previsto o interesse do encontro, comprando alguns ingressos com os quais, após vendidos, lá amealhavam mais uns tostões. Seguidamente o pessoal colocava-se em fila e de imediato os rapazes, sempre atentos e curiosos para ver o divertimento no interior das quatro linhas, lá pediam a mão de um “pai” emprestado que, entretanto, os fazia transportar para o interior do campo, não obstante o olhar duvidoso dos fiscais. Após o obstáculo ultrapassado, a moçada corria como louca pelo interior do lugar na procura da melhor posição para assistir à jogatana. Lá fora uma patrulha da GNR, montada em cavalos, controlava os mais destemidos que procuravam, porventura, uma abébia. Havia também a equipa de apanha bolas, arranjada e orquestrada pelo “tio” Xaxinha, roupeiro do Desportivo, que usufruía da benesse de entrada livre. Conhecemos equipas de luxo do Desportivo, em que proliferava a qualidade dos seus jogadores. Neste propósito, colocamos, neste espaço, um 11 da época de 1962/1963: Alves; Reis, Filipe, Apolinário e Joaquim Madeira; Noi Madeira, Quinito e Madaleno; Marcelino, Fernandes e Dionísio. O treinador era o saudoso Manuel Trincalhetas. Creio que esta foi uma das equipas que terá dado alento a um fenómeno que se expandiria com o evoluir das eras. Craques de eleição, que motivaram novos atletas para a prática do futebol. Tanto mais que os seus respeitosos nomes inspiravam jovens que, mais tarde, se afirmariam no contexto do cosmos da bola.  Fica o repto de cortejarmos essas eras de outrora, mas saudando, com justiça, o salto quantitativo e qualitativo, principalmente, no campo das infraestruturas e, sobretudo, o elevado número de atletas de que a modalidade beneficiou. Velhos tempos!

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