Diário do Alentejo

Anos
Opinião

Anos

Vítor Encarnação, professor

10 de fevereiro 2024 - 08:00

Há cinquenta anos, eu não sabia nada sobre o meu futuro.

Entre aquilo que eu não sabia e aquilo que já sei há uma vida grande, às vezes cumprida, outras vezes desperdiçada. Entre aquilo que eu não era e agora já sou há um tempo que me gastou, um tempo às vezes sereno, a maior parte das vezes inquieto.

Quando eu era pequeno, não era novidade querer ser grande, querer ser astronauta, certamente rico, viver na cidade, ter um carro vermelho descapotável, casar, ser feliz.

As crianças pensam o mundo para a frente, querem a repetição das coisas boas, das festas de aniversário, do Natal, das férias grandes.

Quando eu era pequeno e pensava em mil novecentos e noventa, não pensava em nada de concreto, não tinha tempo de vida para calcular tanto tempo. Se pensasse em dois mil e vinte e quatro, acho que nunca pensei, não pensava absolutamente em nada, não tinha noção de quanto é um tal abismo de tempo.

Eis-me chegado ao átrio deste abismo de tempo, eis-me aqui a olhar para trás.

Os adultos, quase a serem velhos, pensam o mundo para trás, querem a repetição das coisas boas, das festas de aniversário do princípio da vida, do Natal em que se acreditava no Pai Natal, das férias grandes onde os dias não tinham fim.

Cinquenta anos depois, eu não sei nada sobre o meu futuro. Entre aquilo que já sei e aquilo que ainda não aprendi há uma vida não tão grande como aquela que já vivi. Nesta idade não é novidade querer ter saúde, talvez ainda sonhar, viver no campo, amar, ser feliz.

Há cinquenta anos, eu pensava que não durava tanto. 

Comentários