Quando se despedir de alguém de quem goste muito, certifique-se que o faz como se fosse a última vez, porque haverá uma vez que será mesmo a última vez. E nós sem sabermos, não o podemos saber, a vida não nos dá esse direito.
Depois desse adeus, que não se imaginaria ser o derradeiro, um dos dois estará morto. E ao olharmos para dentro do caixão, ao estarmos perto da cova, sentimo-nos culpados por não termos sido sempre mais afetuosos, mais claros na afirmação da nossa amizade ou do nosso amor.
É por isso que devemos sempre abraçar aqueles de que gostamos quando nos separamos. E quanto mais tempo presumirmos que vamos estar sem os ver, quanto mais indicações tivermos de que a doença se vai instalar, mais forte deve ser o abraço.
Depois, quando chega a notícia, já não há nada a fazer, a não ser remoer e reviver o momento daquela despedida tão simples e tão rápida. Somos esmagados pela amargura de o tempo não nos ter dado a oportunidade de fecharmos contas, de os braços apertados terem sido tatuagens de eternidade e de carinho.
Cada vez vão sendo mais aqueles de quem não me despedi devidamente. A primeira coisa que faço é regressar ao momento da despedida e julgar a força do meu abraço. Às vezes fico aliviado, mas outras vezes não.
São tantos aqueles que partem de repente, tão novos, tanta vida pela frente. Uns que partem porque a morte é mais forte do que a sua vontade de viver, outros que partem porque a morte é o único caminho para poderem descansar do excessivo peso da vida. Despeça-se em vida, a morte não liga a essas coisas.