A epopeia desportiva diz-nos que, para além dos efeitos colaterais que o homem transporta ao longo da sua vivência, esta se assemelha a um poema bélico que relembra o adepto com imagens agradáveis. O desporto, com toda a sua afabilidade, assume-se como uma benéfica condição que ampara prodigiosas mentes, tendo em conta o supremo condão que nos conduz a períodos idos que mexeram com os nossos amáveis egos. É óbvio que não vamos falar nos tais “chicos espertos” que por aí esgrimem argumentos, desencadeando um fluído palavreado que mais se assemelha a improfícuos mandatários cujos fins resvalam para retóricas estéreis, ou seja, enganam-se a si próprios e aos adeptos que neles confiam. Aliás, o olhar dúbio daqueles que a tudo dizem “amém” é resultante de um fresco beber em cantigas de escárnio e maldizer, onde no púlpito do altar lá está um senhor expelindo alguns camuflados disparates. Neste contexto, caminho por um outro prisma, o da sinceridade e o da humildade, ocorrendo-me trazer à estampa dois Chicos que abrilhantaram, no antigamente, os emblemas das cores que pintaram as suas almas de emoções: o Chico do Despertar e o Chico do Toril do Atlético Aldenovense. Dois seres sociáveis, cujos símbolos dos emblemas que adoravam os conduziam ao cume de uma montanha, não obstante as suas condições físicas aparentemente lobrigadas. Recordo o Chico do Despertar que, em dias de prélios, era vê-lo a correr em volta do retângulo de jogo do estádio Dr. Flávio dos Santos, em Beja, num incansável grito de solidariedade para com o seu “Rasga”. A todos dava troco. Discutia uma jogada, ralhava com o árbitro, apelava ao incitamento das massas, ou respondia à letra a quem, porventura, contrariasse o seu pensar. Exaltado, mas nunca submisso a crenças hostis, o Chico do Despertar foi uma figura inigualável que deixou saudades. Incomparável foi, também, o Chico do Toril do Atlético Aldenovense. Franzino, mas de uma fibra ímpar, tipo antes quebrar que torcer, o Chico do Toril estimulou as suas incapacidades motoras, sacou de outras competências, bem como doutras ferramentas e afirmou-se como homem íntegro no clube de Aldeia Nova de São Bento. Não obstante a herança legada, isto é, um coração que lhe trouxe arrelias, o Chico fez de tudo um pouco no clube da terra que o viu nascer. Foi massagista, roupeiro, caiou o campo sob as terríveis intempéries de um inverno rigoroso, ou debaixo de um calor intenso, limpou botas entulhadas de lama, lavou e enxugou equipamentos, distribuiu amizades e recebeu um insofismável agradecimento de uma população que ainda hoje o recorda com uma literal saudade. Chicos como os que aqui enalteço, atrevo-me em dizer que já não existem. Foram peças únicas numa carruagem afável que fizeram deles figuras sóbrias no reino futebolístico. Elos mais fracos? Não! Seres superiores na entrega aos seus desejos desportivos.