Diário do Alentejo

Luto  no futebol distrital
Opinião

Luto no futebol distrital

José Saúde

20 de janeiro 2024 - 08:00

Dor, lágrimas, revolta emocional dos seus companheiros em campo, dirigentes, público em geral, assim como de todo o staff que o rodeava, e eis a morte no futebol de um jogador que militava no campeonato secundário na Associação de Futebol de Beja.

É angustiante, quiçá, inimaginável, depararmo-nos com uma situação desta natureza por estas bandas. Mas, o impossível afinal não existe. Temos conhecimento de casos desta índole noutros locais, mas por cá não existia a presença de tamanho sofrimento.

A vida, na sua generalidade, não é imune a fatalidades que ocorrem inesperadamente. Chamava-se Gefrison Candé Vinha Afonso, tinha 28 anos, cidadão da Guiné-Bissau e jogava na equipa sénior do Futebol Clube Albernoense.

Aconteceu perto dos 10 minutos de jogo, num encontro que se disputava no municipal de Mértola e cujo adversário era o conjunto da Mina de São Domingos, caiu inanimado e logo o seu estado corporal deixou antever que o problema era grave.

Os meios de auxílio foram de imediato acionados, houve prontidão no aflitivo grito de socorro, todavia, o seu fim agudizava-se a cada instante, sendo a morte o seu presumível e funesto fim de vida. Gefrison Candé nasceu a 1 de dezembro de 1995 e faleceu a 7 de janeiro de 2024, praticando uma modalidade, o futebol, que, seguramente, adorava.

O corpo foi levado para o seu país, tendo chegado ao Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira, em Bissau, e de onde o cortejo fúnebre seguiu para o bairro da Antula, na capital guineense.

O Candé frequentava o curso de Engenharia Informática no Instituto Politécnico de Beja e preparava-se para enfrentar um futuro que desejava, seguramente, de veementes sucessos.

Recorde-se que o malogrado jogador havia antes representado o Centro de Cultura e Desporto do Bairro de Nossa Senhora da Conceição, em Beja, sendo que se tinha transferido para Albernoa.

A vida, sendo-nos a espaços adversa, creio que para todos, é um constante puzzle que cabe a cada um de nós pensar nessa inequívoca e efémera existência humana, raciocinando, e sempre, que somos afinal seres vivos e que a inevitável morte nos poderá surpreender ao virar de uma qualquer esquina.

O Candé era proveniente de um país que conheci em tempos de guerra e de paz, sobretudo, na região de Gabu, num conflito armado que não dava tréguas ao mais singular militar. Território onde a humildade das suas gentes era, e será ainda hoje, o fiel fascínio de etnias (cerca de 40) que vivem arreigadas a princípios básicos dos seus leais antepassados.

O Candé partiu para a tal viagem sem regresso longe dos seus familiares e amigos, amigos esses com os quais partilhou momentos de memoráveis prazeres, ficando na história do prodígio futebolístico sul-alentejano que, ao longo da sua estadia por terras bejenses, fora sempre acarinhado. Luto no futebol distrital e paz à alma de Gefrison Candé!

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