A idade, esse tempo que se mete dentro de nós e não nos larga, vai-nos tirando algumas certezas. Ideias fixas, verdades e teimosias vão enfraquecendo à medida que os anos nos vão dando lições de finitude. Esses ensinamentos levam-nos a ceder, a aceitar, a desimaginar. Não se trata de resignação, incoerência ou fatalismo, é apenas a vida a dizer-nos que nada é definitivo, muito menos a efémera existência de um homem ou de uma mulher. A vida sempre nos disse coisas, há anos que a vida nos dizia coisas, mas nós não a ouvimos, fizemos orelhas moucas, nós só ouvimos o que nos interessa. E talvez tenhamos feito bem, não nos devemos ajoelhar perante a força do tempo sem antes termos tentado tudo.
Quem tentou tudo, ainda que não tenha conseguido tudo, ajoelha-se de uma forma mais tranquila, sabe que não desperdiçou os olhos, as mãos, a pele, os lábios, o coração. Temos de aceitar que há capítulos encerrados, temos de perceber que se quebraram brilhos e se apagaram fogos, se esfumaram ilusões e se rasgaram horizontes, mas devemos afirmar a possibilidade de substituirmos as perdas por outras conquistas mais calmas, mais serenas, mais intensas. O dia em que aceitamos que se deve viver um dia de cada vez é o dia em que a vida nos mudou. A partir desse dia, já nada será como dantes. Os planos não deixam de existir, os sonhos não morrem, mas a ansiedade que está associada ao desejo é muito menor. E por causa dessa menor inquietação aprendemos, finalmente, a saborear o momento.