Diário do Alentejo

Desportivamente
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José Saúde, jornalista

28 de julho 2023 - 15:00

Desportivamente redijo este texto, mas com o devido respeito ao fenómeno futebolístico e à coletividade, acerca da decisão do Despertar Sporting Clube em não participar no Campeonato de Portugal, na presente época (2023/2024), uma competição da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), após se sagrar campeão na temporada anterior em seniores, com o equitativo mérito, na Associação de Futebol de Beja (AFBeja). O Despertar, ao que já se articulava, não se encontrava devidamente licenciado na FPF, logo, as condições federativas impostas para competir em provas nacionais não estavam a ser cumpridas. A esta situação adicione-se uma presumível convicção que se dilata pela “falta de verbas” e, logicamente, um plantel reforçado que traria montantes financeiros acrescidos.

É hora para colocarmos toda a “carne no assador” e rever que as assimetrias operadas no futebol nacional são uma espécie de xadrez em que se deparam as maiores desigualdades. Num país tão pequenino como é o nosso constatam-se diferenças abismais. Olhamos para o mapa português, e concentrando-nos no peso financeiro que cada uma das regiões indicam no universo empresarial, concluímos que o Baixo Alentejo é desportivamente, e não só, um distrito alvo doutras quimeras. Escasseiam os investidores. Os sponsors declinam os seus apoios às coletividades, dão o que podem e a mais não são obrigados. Os outrora auxílios monetários das autarquias foram chão que já deu uvas, dado o maior número de coletividades a solicitarem, anualmente, tais apoios, sendo, por isso, os orçamentos camarários agora mais divididos.

Os sócios cada vez são menos. O número de assistentes aos jogos comprovadamente diminuiu. Vende-se uma rifa à entrada do campo, situação, esta, que leva os clubes a arrecadar uns magros cobres e toda a responsabilidade recai em dirigentes que lá vão conseguindo levar o barco a um porto seguro. É certo, e disso que ninguém o contradiga, que é no Norte de Portugal que existe a força do desporto, pois é lá que se centram as indústrias e os grandes investidores, para além de uma população substancialmente superior. No Baixo Alentejo, onde os olivais intensivos se multiplicam, já nem uma sombra de azinheira sobra para o velho camponês descansar e alvitrar, quiçá, uma ida no próximo fim de semana a um jogo de futebol do seu grémio, mas este incluído numa competição nacional. Desportivamente, tudo isto nos entristece, porque, refletindo sobre a veracidade observada, somos, por ora, meros embaixadores de um espaço desportivo cada vez mais circunscrito ante uma robustez superior que nos tira do sério. É tempo para pensar na opção do Despertar. Concorde-se ou não com tal determinação, não tiremos precipitadas reflexões e não joguemos setas indiscriminadas para o ar, sabendo nós que o alvo é literalmente um outro.

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