Diário do Alentejo

Passe “Nacional” Ferroviário:  vergonhosamente sós
Opinião

Passe “Nacional” Ferroviário: vergonhosamente sós

Francisco Lancastre Palma, agrónomo

21 de julho 2023 - 14:00

Anunciou-se o Passe Ferroviário Nacional há poucas semanas, em nome de um país mais coeso, verde e conectado, que custará 49 euros/mês.

Claro que o Governo, pelos seus padrões exigentes, não poderia deixar de nos presentear com a ratoeira do costume e com o desprezo imensurável por aqueles que estão há anos a ver as suas conexões com o resto do País serem delapidadas.

Depois de vermos a Área Metropolitana de Lisboa e a do Porto a beneficiarem-se com 120 milhões de euros do Orçamento do Estado de 2020 para reduzir os preços dos passes, o restante do País recebeu apenas migalhas. Essas migalhas foram destinadas a passes urbanos que não oferecem uma solução real de mobilidade para zonas remotas e não tornam o transporte público uma alternativa viável ao uso de veículos particulares. A solução adequada para a mobilidade nessas áreas remotas seria, para grande felicidade das populações isoladas e com más acessibilidades, como é o caso de Beja e Odemira, a implementação de um passe nacional ferroviário que conectasse estas pessoas ao resto do País.

Entretanto, aqui está a ratoeira e a total falta de vergonha: o passe só é válido para comboios regionais! Tomemos como exemplo a ligação entre Beja e Casa Branca, que é considerada uma ligação intercidades, embora não haja nem comboio nem cidades envolvidas. Há apenas uma automotora, sendo Beja a única cidade, e Casa Branca, da última vez que passei por lá, era apenas uma povoação. Mais uma vez, essas populações são confrontadas com uma medida que anuncia coesão nacional, mas que, na realidade, só gera mais isolamento e condições precárias para aqueles que precisam de se conectar com o resto do País por motivos de saúde, trabalho, educação, etc..

O desprezo total pelo distrito de Beja continua! Um dos distritos que mais contribui para o PIB nacional constantemente vê investimentos públicos, supostamente nacionais, que não se refletem na qualidade dos serviços, seja na mobilidade, saúde ou educação.

Como não gosto de escrever apenas para criticar, gostaria de apresentar duas alternativas para o Governo, caso alguém da tutela esteja a ler. A primeira solução seria reclassificar todos os comboios do Alentejo como comboios regionais. A outra alternativa seria retirar a palavra “Nacional” do Passe Nacional Ferroviário, uma vez que não abrange todo o País. Se nenhuma dessas soluções for aceite, pelo menos confirmarei as minhas suspeitas de que este governo já não considera Beja como parte do País, já que há muitos anos estas populações têm sido deixadas ao abandono e estão vergonhosamente sós.

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