Diário do Alentejo

Dia da mãe
Opinião

Dia da mãe

Vítor Encarnação, professor

12 de maio 2023 - 14:00

Estás na mesma, o tempo não te muda, a tua pele tão macia, as tuas mãos tão suaves, as tuas palavras tão ternas, os teus olhos sempre tão vivos. Esses teus olhos são uma casa grande onde nos juntamos todos, o pai, os tios, os manos, os teus netos, dentro desses olhos cabe a felicidade de tanta gente, tu és a felicidade desta família, quando alguém se sente perdido, procura-te, quando alguém está feliz, tu ficas mais ainda.

Os teus olhos de terra são os mais bonitos do cemitério. Já morreste há tantos anos, mas os anos parecem não passar por ti, eu digo às pessoas que não te conheceram, foram poucas a pessoas que não te conheceram, que tu és a minha mãe e as pessoas dizem que parecemos irmãs, e eu fico tão orgulhosa. Quando nós amamos muito uma pessoa, se for mãe amamos ainda mais, não há caixão que roube o corpo, nem bichos que comam a carne, nem cova que enterre a memória. Não te quis ver depois de teres fechado esses olhos sempre tão vivos. Não quis ver em ti o silêncio em que nos tornamos quando morremos.

Assim, tenho-te inteira dentro de mim. Estás tão bonita, mesmo morta estás sempre tão bonita. Hoje é dia de almoçarmos todos juntos, por isso sei que ontem foste à cabeleireira, ela disse-me que sonhou contigo, estavas a pintar o cabelo, agarraste-lhe na mão e disseste-lhe que hoje íamos ao restaurante. Venho buscar-te, já reservámos mesa, uma mesa grande como tu gostas. Vamos as duas de mão dada, saudades fora, os outros já lá estão à nossa espera.

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