Liberdade não é apenas uma palavra. É uma atitude! Há pessoas que se amofinam quando se fala de liberdade, noutro tempo é que éramos todos tão felizes, tão certinhos, tão obedientes, tão disciplinados, tão serenos, desde que não tivessem passado fome, ou estado presos, ou não lhes tivesse morrido nenhum filho no ultramar, obviamente. Há pessoas que confundem os princípios e os valores da democracia com o que alguns velhacos, aproveitadores do sistema, fizeram dela.
Há pessoas que se põem à janela da palavra, muito seletas, muito corteses, disfarçadas dos melhores conceitos teóricos, mascaradas das ideias mais dignas e mais solidárias, a verem a vida a passar, a verem a corrupção a passar, a verem o racismo a passar, a verem a alarvidade a passar, a verem a injustiça a passar e não aplicam nada do que aparentam ser. Para não se comprometerem, para não terem chatices, para não lhe fecharem portas, não têm opinião, ausentam-se do dever de participar na causa pública, preferem fechar a janela e esconder-se dentro da sua mesquinhez e indignidade. Há pessoas que vão à rua maquilhadas de nobres intenções, muito aprumadas, muito zelosas, põem a palavra na lapela, apenas no átrio das casas, apenas antes de abrirem a porta, e passeiam-se com a palavra na lapela para os outros verem.
A palavra vai na lapela como se fosse a etiqueta de um artigo contrafeito. A liberdade que não se sente, a liberdade que não se exerce, é um artigo contrafeito.