Diário do Alentejo

A senhora diretora
Opinião

A senhora diretora

José Saúde, jornalista

09 de abril 2023 - 13:00

Longe vão os tempos em que as coletividades, quer estas fossem desportivas quer culturais, eram dirigidas, por regra, por clãs masculinos. O homem, exibindo a sua proficiente dignidade, vestia um fato de primeira qualidade, de preferência em tecido de “terylene”, uma camisa branca “triple marfel”, onde assentava uma gravata fina, sapatos que momentos antes haviam sido bajulados pelos engraxadores que à época se sentavam sobre uma caixa em madeira em que guardavam o material de trabalho, mas cuidando com devido brilho o calçado, e eis o diretor, orgulhoso do seu estatuto, a caminho da suprema condição de dirigente. Conhecemos este estado de alma de pessoas que jamais abandonavam princípios éticos e que faziam deles líderes afamados. Era uma estirpe de personalidades, geralmente, oriundos da alta sociedade, que se entregavam a uma causa que o povo estimava.

A mulher, nesses recuados idos, não era chamada para tais procedimentos sociais, mas com o evoluir das eras, e com meritíssima equidade, reclamou a sua afirmação no seio de uma tribo estritamente reservada aos homens. Vagueando por uma razão que me fora dado conhecer, e com evolução das conjunturas a apresentar-se determinante, aconteceu que a mulher, não obstante a sua condição feminista, reivindicou a igualdade que antes teria sido imposta pelos senhores que defendiam tal altivez, mostrou ao mundo que os seus conhecimentos são uníssonos, que a perceção atual é uniforme e que ela, mulher, assume, com sapiência, análogas responsabilidades.

Este texto resume-se a um reparo que tive a oportunidade em observar num jogo de futebol feminino no pretérito sábado, 1 de abril de 2023, entre o Desportivo de Beja e o Futebol Benfica, o popular “Fófó” (1-4), para o Campeonato Nacional Feminino, sub-19, 2.ª fase, série Sul. Sabemos, e penso que não estarei errado, que há legados desportivos que se transmitem de geração para geração. Neste contexto, o que vi foi uma diretora do Desportivo de Beja a viver intensamente o evoluir da partida, sendo o seu nome Susana Janeiro, filha de um antigo jogador de hóquei em patins chamado Costa. Ela, mulher de caráter desportivo afirmado, aliás, tal como todas as suas condiscípulas que se entregam despretensiosamente a este imenso universo, neste particular à agremiação bejense, se assumem como genuínas diretoras que atingem esmeradamente o patamar de excelência. Por isso, este pequeno escrito que recai sobre a Susana Janeiro, sendo que aqui todas se encaixam na perfeição, é um dos exemplos como uma dirigente consegue conviver de perto com um grupo de trabalho nos seus diversos contextos. A Susana carrega com ela multifacetadas emoções que fazem dela uma dirigente em que assenta o distinto carimbo de brilhante. Bem-haja senhora diretora, assim como a todas as mulheres que se entregam, com brio, a missões públicas!

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