Diário do Alentejo

Abelhas
Opinião

Abelhas

Vítor Encarnação, professor

24 de março 2023 - 13:00

É altura de festejar as abelhas. A minha laranjeira já me tinha dito que elas viriam em breve, não demoraria muito tempo, viriam assim que ela se vestisse de fores. E assim foi, à luz da lua, uma noite destas, cheia de pássaros a dormir dentro dela, a minha laranjeira deu à luz flores, muitas flores brancas, agora a minha laranjeira é uma noiva à espera de beijos.

A minha laranjeira disse-me para eu me levantar cedo, levanta-te antes dos pássaros, senta-te aqui ao pé de mim, as abelhas chegam hoje. E chegaram, vieram em zumbidos de luz, vieram em frenesins de asas, vieram e beijaram a minha laranjeira, a minha laranjeira é a noiva das abelhas. Ainda bem que era domingo, ainda bem que tinha mais tempo para ali ficar a observar as abelhas, olhar atentamente para a forma como abordam as flores, como esvoaçam entre elas, essa aparente desorganização, essa ilusória anarquia.

Fruto da excitação, as flores beijadas, as flores amadas, as flores possuídas, caem, algumas para o meu colo, outras para os meus cabelos. Quem me dera poder ser flor ou abelha. Tanto me fazia. Ao fim da tarde, um zangão fere o silêncio e as abelhas partem. Amanhã voltarão, que pena ser segunda-feira. Observar abelhas, admirar abelhas, entender abelhas, beijar abelhas, é uma coisa fantástica, todas as pessoas deviam ter a oportunidade de fazer essas quatro coisas pelo menos uma vez na vida. Aqueles que morrem sem terem visto a matriz do mel, morrem incompletos, morrem amargos.

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