Diário do Alentejo

Recordando o clã Covas Lima
Opinião

Recordando o clã Covas Lima

José Saúde, jornalista

10 de março 2023 - 15:00

Existe, em cada de um de nós, o tranquilizado sentimento que nos transporta a outras épocas, sendo certo que essas memórias nos preenchem a alma e confortam lembranças que, paulatinamente, foram caindo no limbo do esquecimento. Todavia, serei sempre um defensor de um passado que se transformou, felizmente, no momento atual, articulando, desportivamente, essa visível veracidade. Neste contexto, eis-me a desafiar as agrestes escarpas de ciclos de vida, considerados celestiais. Viajo pela faustosa máquina do júbilo desportivo e esbarro em acontecimentos que marcaram épocas em que o futebol se afirmava numa sociedade impregnada de imponderáveis medos.

O fenómeno cooperativo era um tema que restringia avanços seguros em moços que sonhavam com o mundo da bola. O sistema político de então não dava tréguas, logo, pequenos grupos de pessoas predestinados para o vício do jogo requeria um prévio cuidado. Caminho por veredas já gastas pelo tempo e revejo narrativas legadas por homens que tão brilhantemente ousaram desafiar as amarras dos perversos pânicos e se lançaram na construção de agremiações que glorificaram concebíveis sonhos. Recordando esses velhos tempos, recorro a narrativas legadas pelo saudoso Melo Garrido, que nos causam, ainda hoje, grandes emoções. Na cidade de Beja, anos de 1920, deram à estampa clubes que se afirmariam decididamente no palco futebolístico local. Vivia-se com elevado deslumbramento a prática desportiva. Além dos clubes que, entretanto, se fundaram, existiam, também, os chamados grupos de jovens que se dedicavam ao prazer do jogo da bola e que atuavam em jogatanas aos fins de semana. Lembrando esses períodos áureos, detenho-me perante o “Botana” e o “Botanoide”. O “Botana” era chefiado pelo doutor António Covas Lima e o “Botanoide” por João de Melo Garrido, um homem que, tendo em conta uma cisão no primeiro grupo, acabou por formar o segundo.

Inserindo a nossa curiosidade pelo futebol desses antiquados tempos, escrevo, com dignidade e honradez, que o doutor António Covas Lima foi, ainda, jogador do “Glória ou Morte”, de Beja. A sua sina estava traçada, uma vez que, mais tarde, assumiu a presidência da Associação de Futebol de Beja (1936-1938/1946-1947/1952/1960), abrindo portas para o seu filho, doutor João Manuel Covas Lima, o popular doutor Nana, para que um dia se consagrasse como dirigente da emblemática corporação. Feitos e pessoas que marcaram a maravilha desportiva do antigamente e que muito contribuíram para a evolução da gigantesca realidade agora observada, tanto mais que o filho do doutor Nana e, logicamente, neto do doutor António Covas Lima, Luís Covas Lima, lhe seguiu as peugadas dos seus ilustres familiares. E assim vamos recordando o clã Covas Lima com a meritíssima equidade e, sobretudo, com imensa saudade.  

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