Diário do Alentejo

Globalizar a solidariedade
Opinião

Globalizar a solidariedade

Manuel António do Rosário, padre

28 de fevereiro 2023 - 12:00

O Homem, apesar de não ser nem anjo nem demónio, é, porém, capaz de obras extraordinárias e de atrocidades aterradoras, basta olhar para os crimes praticados por seres humanos contra os seus semelhantes na Ucrânia!

O título deste artigo evoca uma afirmação do papa João Paulo II, aquando do tsunami que, em 2004, ceifou a vida a centenas de milhares de pessoas, em vários países banhados pelo oceano Índico. Face às proporções dantescas dessa hecatombe, o papa lançou um desafio para que a solidariedade da comunidade internacional e da própria Igreja se globalizasse rapidamente.

Creio que um apelo similar se poderia aplicar ao drama que enfrentam Turquia e Síria, atingidos pelo violento tremor de terra, que provocou um elevadíssimo número de vítimas, que continua a subir, e efeitos devastadores, ainda impossíveis de quantificar.

As consequências foram mais graves na Turquia, um país que, contudo, possui maiores capacidades de resposta. Quanto à Síria, os recursos são exíguos e, além do mais, a guerra civil provocou centenas de milhares de mortos, milhões de deslocados internos e um sem número de refugiados.

Estamos, pois, perante um cenário que nos desafia a não permanecer na insensibilidade e no comodismo, mas, a manifestar uma solidariedade operativa.

A lista de países onde o sofrimento marca o dia a dia de milhões de pessoas é, porém, enorme e, para não recuar muito no tempo, lembro a República Democrática do Congo e o Sudão do Sul, recentemente visitados pelo papa Francisco, e que mereceram durante alguns dias apenas a atenção da opinião pública. Nestes países o cortejo de horrores é tremendo: fome, guerra, cobiça e destruição de recursos, violações, etc. Pouco se fala deles, e de tantos outros que (já) não são notícia.

Como diz o adágio: “Good news, no news”. Era bom que assim não fosse, e que o ser humano não despertasse apenas para as “bad news”. Afinal, há, e poderá, haver muitas “good news”, se nós quisermos. Basta agir!

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