Diário do Alentejo

Tigres da rotunda
Opinião

Tigres da rotunda

José Saúde, jornalista

03 de janeiro 2023 - 16:30

Com as suas simplicidades e os atrativos prazeres que cada circunstância proporciona, o universo desportivo oferece instantes maravilhosos, principalmente quando viajamos por uma comunidade de estradistas que fazem jus ao seu bem-estar físico. Naquele grupo, onde se cruzam seres humanos de idades díspares, as conversas são como as cerejas e o franco convívio harmoniza eloquentes surpresas. Fala-se das alterações feitas às bicicletas, visto que é do ciclismo popular por onde este texto disserta, da novidade da última aquisição da sofisticada “pedaleira”, dos arranjos considerados oportunos, dos treinos, alguns à socapa, dos andamentos de cada um dos companheiros de um pelotão que integra normalmente mais de duas ou três dezenas de ciclistas no asfalto, das fugas que trazem, por vezes, saudáveis reivindicações e também pontuais dissabores, ou de um condiscípulo que ficou para trás porque as pernas não deram mais, do fator carbono do quadro que dá um outro elam à “máquina”, dos preços exorbitantes do material despendido, das “bocas” saudáveis ao parceiro que, entretanto, é motivo de saudável paródia e, evidentemente, a  uma confraternização considerada excelente.

No pretérito 16 de dezembro, 2022, a festa dos “Tigres da rotunda” foi de arromba. Jorge Maldonado, um dos ciclistas daquele extraordinário conjunto de homens que fazem da estrada um dos seus fundamentais prazeres desportivos, e a Chefe Saudade Campião, sua esposa, foram os anfitriões no seu estabelecimento de restauração que ocasionou a toda aquela gente uma noite inolvidável e de plena afeição. Mas, o homem da noitada fora o Ilídio Fragoso, um amigo que havia completado 80 anos de existência e considerado pela rapaziada como o patriarca dos “Tigres”.

O Ilídio é um senhor que sempre se dedicou de corpo e alma ao mundo do ciclismo, quer no contacto com o alcatrão onde, por ora, desenvolve o seu imenso desejo, não obstante a sua longevidade, quer no tempo que gasta a preparar, ao pormenor, a sua bicicleta. Porém, o Ilídio recusa dar-se por vencido. Vai a todas. Cortar a meta é o objetivo prioritário. O seu corpo, hábil e esguio, mantém-se hirto e afirma-o, com presunção, “que ninguém o bate aos fins de semana”, onde as “voltinhas” por estes campos sul alentejanos, agora verdejantes, lhe vão enchendo a alma e abrindo o peito para novos estímulos. Por sua vez, Abelardo Mestre, após vários anos a incorporar o pelotão, é agora o fotografo dos “Tigres da rotunda”, um homem “mágico” que acicata o falatório, puxando para a cavaqueira segredos de cada um dos distintos “Tigres”. Na verdade, estes convívios desportivos, no caso o ciclismo amador, é-nos salutar e conduz-nos ao facto real que para além da diferença de idades, ou de profissões, o importante é o divertimento que o cosmos das bicicletas oferece ao cidadão comum. Ou não fosse a componente desportiva algo de importante pela nossa compleição física!

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