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Vítor Encarnação, professor

19 de dezembro 2022 - 12:30

Tive professores que eram sempre fixes. Eram fixes do princípio ao fim de cada aula e de cada ano letivo. Neles tudo era fixe, a leveza das matérias, a desorganização das aulas, as notas de final de período sempre acrescidas de um bónus de simpatia, as canções, as festas, as fotografias e as histórias da família. Muito gostava eu dos professores que eram sempre fixes. O problema é que eles pouco me ensinaram. Não me transmitiram conhecimento, não me ensinaram a importância do cumprimento de prazos, da organização, do método, da competência. Tive outros professores que eram sempre chatos.

Eram chatos do princípio ao fim de cada aula e de cada ano letivo. Neles tudo era chato, o peso dos temas, os assuntos ditados para o caderno, o elogio da memorização sem substância, as notas de final de período dadas a olho, a ausência de um sorriso. Não gostava nada dos meus professores que eram sempre chatos. Para além da angústia e do aborrecimento não me ensinaram mais nada. Tive outros professores que às vezes eram fixes e outras vezes eram chatos. Não se comportavam sempre da mesma forma, eram mensageiros, intérpretes, atores de um plano, cediam e exigiam, faziam-me sorrir mas também me punham lágrimas nos olhos, ensinaram-me a liberdade e a responsabilidade, o esforço e o mérito, a dúvida e a conclusão, o silêncio quando é devido, a palavra quando é necessária. É só perante estes que eu me curvo. Os outros não prestaram para nada.

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