Diário do Alentejo

“Velhos do Restelo”, desportivamente
Opinião

“Velhos do Restelo”, desportivamente

José Saúde, jornalista

14 de dezembro 2022 - 12:00

Luís de Camões, nas suas estrofes 94 e 104, do canto IV da sua obra “Os Lusíadas”, interpreta o “Velho do Restelo” como o símbolo dos pessimistas que não acreditavam o quão importante fora a epopeia dos Descobrimentos Portugueses. No episódio que narra a partida de Vasco da Gama, um homem que se lançou por estes mares fora na procura de novos mundos, uma expedição aventureira que terminou com a descoberta da Índia, houve um ancião que duvidou dessas viagens, argumentando “que os temerários navegadores, movidos pela cobiça da fama, glória e riqueza, procuravam desastre para si mesmos e para o povo português”.

Decorria o reinado do rei D. Manuel I quando Vasco da Gama, e toda a sua tripulação, alcançou Kappakadavu, próxima a Calecute, a 17 de maio de 1498 e os “Velhos do Restelo”, não rendidos a tão faustosos factos, arremessaram as suas desconfianças, não reverenciando tão ilustres marinheiros. Porém, ficaria sublinhado na história portuguesa os inolvidáveis êxitos alcançados pelos nossos audazes navegadores. Presentemente, finais do ano de 2022, os “Velhos do Restelo”, debruçando-se sobre o Campeonato do Mundo, no Qatar, continuam por aí esmiuçando imprudentes destrezas e colocando em causa aquele que fora, e é, um dos melhores jogadores de sempre no universo futebolístico: Cristiano Ronaldo.

Sabemos todos que CR7 é uma marca que interminavelmente se espalhou por este universo terrestre. Partiu da Madeira com 11 anos, atravessou parte do Atlântico, cresceu, fez-se homem e atleta de eleição e jamais recusou o trabalho quotidiano, mesmo árduo que ele fosse. Não importa fazermos eco do clube que fora o seu berço. Reconheçamos, por ora, que aos 37 anos os seus fulminantes atrativos e ágeis reflexos já não são o que eram. Mas, antes, o teu povo aplaudiu-te, com ênfase, com as muitas alegrias que lhes proporcionastes. Batestes records mundiais que pareciam inalcançáveis, conquistaste quase tudo, ou mesmo tudo, no palco onde te assumiste como um verdadeiro rei, falta-te o Campeonato do Mundo, o título maior de um desportista, mas fostes cinco vezes o melhor “Jogador do Mundo” e ainda “Bota de Ouro”.

Fostes, também, Campeão Europeu pelo teu país, Portugal, e pelos clubes que honradamente representaste. Fizestes vibrar a tua nação. Agora, com a saída do Manchester United Football Club toda a sua estrutura abanou. Foste um Homem. Mandas-te o recado para os donos do emblema inglês e eles ouviram-te. Todavia, alguns, poucos, adeptos de clubes rivais neste chão que fora igualmente de Camões, nunca isentar-se-ão da tua portentosa ascensão.

Cronistas do futebol de uma nova geração, embora escassos, não te perdoam desconhecendo, porventura, o teu passado. Vale-me ouvir senhores que comunicam sobre os conteúdos dos deuses da bola, porque o sabem, enquanto outros se apresentam como os anacrónicos “Velhos do Restelo”, desportivamente.

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