Diário do Alentejo

O preço do êxito
Opinião

O preço do êxito

José Saúde, jornalista

20 de novembro 2022 - 16:00

O cosmos desportivo é ferido de excêntricos e solitários momentos que poucas saudades deixam num palco onde a voz de alguns parecem iluminar um céu repleto de estrelas. Com os anos que levamos ligados ao futebol, e que não são poucos, no meu caso quase 60, pois tinha 13 quando me iniciei nos juvenis do Despertar, em Beja, e conhecendo algumas das vãs caminhadas do prodígio, assim como as faustosas promessas lançadas por senhores de colarinho branco, mantenho em mim o direito da dúvida, tal como o apóstolo Tomé, “ver para crer”, no que diz respeito a este complicado mundo.

Aliás, é como resultante de tão sumptuosa suposição que esporadicamente lá aparecem os mecenas e o povo, na sua simplicidade, bate palmas, convencem os atletas, prometem-lhes mundos e fundos, depois, vai-se a ver e nada, uma vez que tudo derrapou para um baú corroído de dissonâncias. Os adeptos, ao constatarem a certeza da coisa, sentem-se frustrados, os jogadores enganados, a promessa do país das mil maravilhas cai no reino dos pesadelos e o que fora previamente acordado não passou de ilusões. No outro lado do Atlântico, Brasil, ouvem-se sons de promessas de um imaginário “el dourado” europeu, só que o tal pressuposto estatuto dos craques desliza, por vezes, para o fracasso.

Da nossa larga experiência pelo universo futebolístico conhecemos credíveis deuses da bola que se foram desgastando com o evoluir dos tempos: uns, perderam tudo o que ganharam, sendo hoje interpretáveis seres humanos que vivem na base do donativo; outros, organizaram as suas vidas e são senhores respeitados no seio de uma comunidade que dantes os ovacionou. Portugal é tido como um país de improrrogáveis tradições, assumindo-se como bom anfitrião. A 5 de julho de 2019, fundou-se o Clube de Futebol União Serpense Sport Clube, uma coletividade cuja estrutura competitiva assentava na base jogadores brasileiros, filiando-se na Associação de Futebol de Beja (AF Beja), sendo que os seus préstimos no futebol distrital foram dignos de realce. Havia qualidade nos desportistas e constatou-se que a agremiação tinha pernas para andar. Mas, nem sempre o que parece assim o é de todo, ou seja, num respeito proficiente pela agremiação e, sobretudo, pelos dirigentes que apostaram no projeto, a realidade é que o “caldo” ter-se-á entornado, o barco que navegava em águas seguras afundou-se e o presumível “mestre” toca a mandar a embarcação ao fundo, ficando os tripulantes e passageiros desnorteados em pleno mar alto. A equipa ausentar-se-ia do olhar do faroleiro, não se inscreveu no campeonato superior da AF Beja e a competição ficou defraudada. Terá sido o preço do êxito que derrapou para o inesperado? Fica a dúvida! 

 

Comentários