Diário do Alentejo

Confiança
Opinião

Confiança

Vítor Encarnação, professor

18 de novembro 2022 - 12:00

Esta palavra merecia mais atenção, mais valorização, mais crédito. Apesar de fazer parte das palavras positivas do nosso vocabulário social, é, ainda assim, um parente pobre do amor, da amizade, da honra, da dignidade e da liberdade. Vive num patamar inferior, não é invocada como sendo algo de absolutamente necessário ou decisivo, às vezes quando é traída lá se rasgam umas vestes ou se preparam vinganças, mas o que é um facto é que na relação entre as pessoas ela raramente é incluída nos primeiros princípios sólidos dos relacionamentos.

Eu aponto-a como sendo a base da minha ligação às outras pessoas. Já passei pelo amor vazio, já passei pela amizade oca, já passei pela honra vã, já passei pela dignidade ilusória, já passei pela liberdade enganadora. Descobri, mais tarde, estas coisas só se descobrem mais tarde, que em todas essas situações faltou a confiança. Deram-se beijos, deram-se abraços, teceram-se loas, veneraram-se títulos, comemoraram-se ideias e aparentes horizontes, mas tudo não passou de éter, de circunstância, de desunião, faltou a ligação, faltou a ponte, faltou a partilha, faltou o respaldo. A confiança não tem de beijar, abraçar, elogiar, endeusar, ela funda-se noutras coisas mais profundas e mais resistentes, noutras coisas mais duradouras, noutras coisas mais assertivas, menos emocionais, funda-se mais em planos, menos em improviso, mais em conteúdo, menos em superfície. Mais em atos, menos em palavras.    

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