Diário do Alentejo

A curiosidade da bola
Opinião

A curiosidade da bola

José Saúde, jornalista

07 de novembro 2022 - 12:30

O sublime universo desportivo sempre se apresentou como um palanque de múltiplos prazeres para uma miudagem que, na rua ou nos terreiros da sua localidade, interagiam de forma cordial. Saltavam, brincavam e divertiam-se generosamente pelo seio de uma comunidade juvenil sempre atenta ao fator desportivo. Recorro à história e descrevo pequenos dados dos Jogos Olímpicos da Antiguidade, na Grécia Antiga, que se assumiam como um papel importante de um festival religioso.

O acontecimento cerimonioso ocorria de quatro em quatro anos em honra de Zeus, sendo o seu local o santuário de Olimpia. Reza a cronologia do tempo que a data atribuída à primeira edição terá sido no ano de 776 a.C. Reatando os primórdios do acontecimento, os Jogos Olímpicos assumir-se-iam, naquela época, mais relevantes que os Jogos Pan-Helênicos, só que o imperador cristão, de nome Teodósio, no ano de 393, proibi-os por serem considerados rituais do paganismo. Paganismo fora algo que a rapaziada do antigamente jamais descurou. Aliás, o mundo das crianças sempre fora fértil de uma inata observação, aquando espalhava a sua imaginação por uma modalidade que mexia com o seu ego desportivo.

É fácil detetarmos os apetrechos que cada um dos moços de antigamente idealizava na preparação de uma ferramenta que lhe servia às mil maravilhas para praticarem o desporto favorito. E se é certo que a moçada da bola, muitas dessas bolas eram feitas com meias roubadas à mãe, mas que a pequenada enchia com papel de jornais, não deixa de ser também verdade que havia uma outra forma dos miúdos se juntarem num dos largos das suas povoações e por lá aparecer um rapazito com uma bola, sendo esta uma bexiga de porco enchida com ar proveniente dos pulmões. Naquelas épocas tudo, para nós, se apresentava como uma novidade. Mais tarde aparecia um menino, nascido, quiçá, num berço de ouro, que inseria inveja à rapaziada com uma bola de borracha debaixo do braço e que aguçava o apetite aos filhos de uma classe social mais necessitada, onde as carências imperavam e o dinheiro escasseava.

Mas, o desenvolvimento progressivo da sociedade foi aniquilando velhos procedimentos que dantes faziam parte de clãs mais humildes e que presentemente se avocam pela baliza da igualdade. Na realidade, e assumamos com a indispensável cortesia, que a generalidade do cosmos desportivo evoluiu substancialmente, que já nada é como dantes, os Jogos Olímpicos tornaram-se universais, que os jogos da bola nas ruas, onde o polícia de giro ditava altruísmo, defendendo, com poder, as leis então vigentes, os recintos desportivos tornaram-se fantásticos, as estruturas evoluíam extraordinariamente, com bancadas e pisos sintéticos ou relvados, o número de atletas cresceu, não obstante as idades que cada um revela, e que a curiosidade da bola, dantes proibitiva, é agora um imaculado fenómeno que a todos enche de orgulho.

 

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