Normalmente escrevo para um público adulto, mas por vezes também escrevo para crianças. Escrever para crianças é mais difícil, há que manter uma constante medida de surpresa, pois elas rejeitam as quebras de ritmo e intensidade. Torna-se um desafio simplificar o discurso sem anular as imagens, os símbolos, as metáforas. As crianças são críticas se faltar algum elemento que elas entendam como fundamental. Se falamos em animais é imperdoável que o seu animal preferido não faça parte da história. Sou professor e a minha profissão tem esta extraordinária vantagem para quem escreve. Temos em primeira mão e em direto a matéria-prima que depois serão os nossos leitores.
Esta profissão também nos vicia na utilização de métodos e objetivos: a preocupação com a pedagogia, com a cidadania, com os valores, os princípios. A leitura não se pode definir por despacho ou ordem do professor ou de um familiar. Não é suficiente afirmar, e repetir para nosso alívio de consciência, que ler é importante. O que é necessário é promover um envolvimento emocional. Hoje, com as imensas alternativas que existem, as famílias têm um papel ainda mais fundamental. É preciso ensinar a ler de forma diferente. Não a fazer junção das letras e das palavras, mas sim ensinar as crianças a sentirem a leitura como uma porta para a sensibilidade e para o conhecimento. Defendo que os bons leitores foram muitas vezes bons ouvintes de palavras, de entoações e de silêncios.