Diário do Alentejo

Naperão
Opinião

Naperão

Vítor Encarnação, professor

15 de setembro 2022 - 13:00

Filho, quando cresceres e leres muitos livros e conheceres muitas pessoas e aprenderes a interpretar a vida, quando saboreares derrotas e chorares tristezas, quando te perderes e depois te reencontrares, quando tiveres dúvidas e depois certezas, quando as tuas ferramentas forem uma vezes a razão, outras vezes a emoção, vais descobrir que a felicidade pode ter muitos significados, uns que se percebem bem, outros mais complicados a que chamarão filosofia, mas para conseguires entender essa parte lá mais à frente na tua vida, para ficares apto a entender a teoria e a abstração, tens de sentir a verdadeira essência da felicidade e essa essência está nas pequenas coisas, na satisfação que retiras quando a tua mãe te beija e te guarda dos males do mundo, quando vais passear o cão, quando adormeces no meu colo, quando o avô te dá um carinho. São os pequenos gestos, as simples sensações que se vão tricotando como os naperões que a avó faz.

Um fio aqui, outro ali, um bocadinho de felicidade aqui, outro ali, depois cruzam-se, depois ligam-se, depois atam-se, fortalecem-se e no fim tens a felicidade definida e entendida dentro de ti. É dentro de ti que a felicidade tem de estar, se não estiver dentro de ti, poderás levar uma inteira à procura dela em toda a literatura, em todas as religiões, em todas as filosofias, em todos os mandamentos e pregações, em todas chavões, cérebros e corações, e não a encontras.

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