Diário do Alentejo

Envelhecer
Opinião

Envelhecer

Vítor Encarnação, professor

31 de maio 2022 - 11:45

Se a esperança de vida se transformasse num número concreto e a espécie humana vivesse, por exemplo, até aos noventa anos, nem mais nem menos uma hora, podíamos fazer uma conta simples. Dividíamos o total de dias em que respiramos por dois e encontrávamos o nosso ponto intermédio. A partir da manhã desse dia que ficava precisamente a meio da nossa vida, podíamos inequivocamente dizer que teríamos menos tempo para viver do que aquele que já vivemos, e suportados pela aritmética conseguíamos claramente definir o dia em que começávamos a envelhecer. Aos tantos anos cansávamo-nos mais, aos tantos anos vinham as doenças. Era uma fórmula equitativa e que toda a gente percebia sem ficar à mercê de interpretações metafísicas. Mas, como estão feitas as coisas da existência, porque o tempo que medeia entre o nascimento e o fim é uma incógnita que a matemática nunca há de explicar, talvez a poesia seja a única ciência lógica que se consegue aproximar desse esclarecimento, não é fácil perceber quando é que entrámos no tempo da maturação excessiva. Assim, perante esta confusão de não haver indicações precisas, cada pessoa vai tentando, como pode ou como sabe, resolver a passagem do tempo. Há quem esteja no fim da vida e tenha ânimo, alegria e sonhos e há quem esteja no princípio da vida e só demonstre apatia, melancolia e desespero. Para algumas pessoas a idade é uma festa, para outras é um velório.

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