Diário do Alentejo

A adesão à terapêutica é um pilar de autonomia do doente
Opinião

A adesão à terapêutica é um pilar de autonomia do doente

Mário Beja Santos, jurista

16 de maio 2022 - 11:20

A adesão à terapêutica é reconhecidamente uma trave mestre para uma vida com mais qualidade dos utentes de saúde e dos doentes crónicos, pode mesmo ser encarada como uma das ferramentas da sua autonomia. Quem adere à terapêutica seguramente que confia nos profissionais de saúde e os benefícios para a sustentabilidade do SNS saltam à vista: quem adere à terapêutica e está permanentemente monitorizado evita internamentos desnecessários e a sobrecarga dos serviços hospitalares, vive melhor.

Mas, o que significa concretamente a adesão à terapêutica? Significa tirar partido da utilização dos medicamentos graças a um cumprimento rigoroso da terapêutica prescrita, seguindo as instruções do profissional de saúde que a medica. A monitorização dos doentes crónicos é uma etapa adjuvante que leva à capacitação do doente e uma menor sobrecarga dos serviços de saúde. Como funciona essa monitorização? O Estado, através dos seus serviços de saúde, estabelece acordos destinados a otimizar cuidados farmacêuticos, visa-se o acompanhamento personalizado do doente em condições específicas, por exemplo destacando-se as situações em que os doentes crónicos passam a ser regularmente acompanhado na sua farmácia quando iniciam a toma de um medicamento novo. Há mesmo países que já introduziram o conceito “farmacêutico de referência”, é ele que está ao serviço da autonomia do doente. A lógica é de que os doentes crónicos têm total liberdade para escolher o “seu” farmacêutico, ele será o monitor de acordo com as regras estabelecidas pelo médico, haverá um esquema de medicação devidamente atualizado para dele tirar o máximo de benefícios. Como acontecesse essa monitorização? Haverá reuniões periódicas na farmácia para se avaliar se o doente tem boa compreensão do tratamento, se aderiu em pleno à terapêutica e, quando algo merece retificação do médico, este usa a comunicação eletrónica, expede mensagem para o farmacêutico, restrutura-se o esquema da medicação ou procede-se a uma nova consulta médica para avaliação da situação. Um pouco por toda a parte vão sendo estabelecidos e com proveito estes acordos que envolvem doença como a asma, a diabetes, hipertensão, ou até programas direcionados para doentes idosos polimedicados.

O que revela a avaliação destes programas é mais do que promissor: uma redução drástica dos problemas de saúde dos doentes, uma redução das visitas aos serviços de urgência e uma redução de hospitalizações. E gera-se um maior uso do aconselhamento farmacêutico, um doente letrado nunca deve sair da farmácia, depois da dispensa do medicamento, sem ter resposta a questões como estas: para que serve o medicamento e de que forma ele irá beneficiar com a sua toma; horário das tomas e respetivo intervalo (de 8 em 8 horas, de 12 em 12 horas…); número de comprimidos por toma; precauções a seguir (se se toma o medicamento antes de comer, de pé, sentado…); cuidados com a administração (no caso de ser um creme ou um medicamento para a asma); alimentos e medicamentos a evitar durante o tratamento; durante quanto tempo deve tomar o medicamento; quais os efeitos secundários que podem surgir e se e como podem ser minimizados.

A literacia em saúde e a monitorização das doenças crónicas irão favorecer uma maior equidade na Saúde e um menor desperdício de recursos.

 

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