Diário do Alentejo

O Síndroma de Caim
Opinião

O Síndroma de Caim

Manuel António do Rosário, padre

28 de abril 2022 - 11:40

O Papa Francisco, a propósito desta fratricida guerra, que ensanguenta o Continente Europeu e envergonha a Humanidade, já por várias vezes fez referência ao “Síndroma de Caim”.

Para os leitores menos familiarizados com a terminologia da Bíblia, gostaria de explicar, de forma sucinta, que Caim e Abel são personagens mencionadas no primeiro livro da Bíblia, o Livro do Génesis; eram irmãos, e Caim matou Abel.

Abstraindo das motivações subjacentes ao homicídio, missão dos exegetas bíblicos (não é o meu caso), o que o Papa pretende lembrar-nos é que a guerra é um atentado à fraternidade humana, uma recusa, de facto, da nossa pertença à única Família Humana, que habita esta Casa Comum. O homem torna-se, deste modo, “o lobo do homem”, na medida em que na guerra se revelam de forma horrorosa e degradante, os piores sentimentos que habitam o coração humano.

A guerra não tem justificação, nunca resolve os problemas, e é uma manifestação crassa de egoísmo e de misantropia, pela obstinação em não ter em conta o mal produzido, nem as consequências transversais que daí advirão e que tenderão a perpetuar-se num círculo vicioso, porque os resquícios de ódio e de vingança permanecem por gerações, e manifestam-se, por vezes, de forma inesperada, intempestiva e descontrolada.

O futuro da Humanidade exigirá que se encontrem alternativas à guerra, que passarão pelo diálogo, negociação, e cedência; no fundo, por meios pacíficos, que permitam trilhar caminhos de autêntica evolução civilizacional.

É também desejável que se estabeleçam regras éticas universais, que sejam cumpridas por todos, e que contribuam para normalizar as relações entre povos e nações, com base na justiça, verdade, liberdade, equidade, solidariedade e bem comum, entendidos planetariamente.

Urge também repor no abecedário, o respeito pela vida humana, de cada ser humano, e de todos os seres humanos; sem esquecer que a vida humana não é “descartável” (Papa Francisco).

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