Diário do Alentejo

Reprovar
Opinião

Reprovar

Vítor Encarnação, professor

22 de abril 2022 - 19:30

Devem os alunos progredir sem terem atingido as aprendizagens essenciais de um determinado ano? Obviamente que não. Mas faz sentido que um aluno repita um determinado ano de escolaridade sem que sejam alterados os pressupostos que contribuíram para o seu insuficiente grau de competências? Claro que não. Raramente acontece que um aluno por si só “veja a luz” e se transforme de junho para setembro. E integrar o aluno numa nova turma e repetir conceitos, conteúdos, matérias, forçá-lo a realizar as actividades e os testes nos quais falhou, é quase sempre tempo perdido. Porque o professor não consegue dedicar-lhe mais tempo para suprir as lacunas que persistem, porque o aluno, amiúdes vezes, é fruto de uma complexa mistura de problemas que concorrem direta ou indiretamente para a sua reprovação.

Diz a lei que reprovar um aluno deve ter um carácter excecional. E deve. Tudo deve ser feito para impedir que um aluno fique retido, os ganhos dessa retenção, está provado, são diminutos. Muitas vezes, quase sempre, a tónica é posta no aspecto cognitivo, quando a maior parte das vezes o que existe é um emaranhado social e familiar que define o aluno e o trava comparativamente aos seus colegas. Atribuir unicamente ao sistema educativo a resolução de um problema tão amplo é uma ilusão. Não é coincidência que os alunos que mais reprovam sejam provenientes de estratos sociais e económicos mais desfavorecidos. 

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