No universo futebolístico, onde as ideias para escrevinhar são já parcas e o fenómeno ideológico cada vez mais restringido, sobressaem termos tecnológicos que, aplicáveis ao evoluir do jogo, proporcionam ao mais incauto admirador da modalidade pasmo, tendo em linha de conta a maneira subtil como o “mister” exerce o saber nos conteúdos que logicamente administra. Fala-se na evolução da tática, na deambulação dos atletas pelos diversos setores do campo, na dimensão competitiva do adversário, ou sobre as razões fundamentais como defender ou atacar o resultado, sendo que os esquemas recaem subsequentemente nos blocos: baixos, médios ou altos; ou, ainda, sobre as distintas capacidades que cada um dos atletas apresenta em campo.
Neste contexto, é irrepreensível aceitável que o sistema da tática marcou o desenvolvimento do futebol ao longo do tempo. Existem performances que em nada se compadecem com esquemas que esbarraram nos seus primórdios. O velho vício jogo da bola, praticado em equipa, conheceu novos esboços que se apresentam como uma antítese ao seu quimérico passado.
Francisco Véstia, um dos iniciadores do Piense Sporting Clube, cuja data de fundação se reporta a 16 de fevereiro de 1944, deixou dito para a posterioridade no livro “Glórias do Passado II”, que no seu tempo o posicionamento dos jogadores no interior das quatro linhas, assentava num “guarda-redes, dois backs, direito e esquerdo, o alfa centro, o alfa direito e alfa esquerdo, o ponta direita, o meia ponta direita, o avançado centro, o meia ponta esquerda e o ponta esquerda”. Jogava-se com dois defesas, três médios e cinco avançados.
Num outro âmbito, no Campeonato Mundial de Futebol de 1958, disputado na Suécia, o Brasil, orientado por Vicente Feola, trouxe à estampa um revolucionário 4x2x4 e a equipa sagrou-se, pela primeira vez, campeã do mundo. Pelé, um jovem com 17 anos, foi considerado a pérola da competição, dado que não só orientava o poder do jogo de ataque, mas tinha, também, o privilégio em apresentar-se como marcador de golos.
Mas, as vulnerabilidades táticas trouxeram ao futebol a introdução de novos métodos. As velhas raposas, homens considerados sapientes, acumulam experiências que catapultam os clubes para a ribalta. Assim, tal como em tudo na vida, o futebol foi-se transformando numa caixinha de surpresas e onde proliferam os prudentes mestres. O treinador, na sua essência, é um homem erudito e a sua sabedoria ancestral alterou o sistema de jogar. Mas há ainda aqueles que simplesmente inventam. Existem cursos formativos e o técnico, conhecendo os seus teores, distribui as peças num puzzle que se pretende vencedor.
Longe vão os tempos do velho 2x3x5, bem como outras nuances que foram, entretanto, atiradas para o caixote do lixo. Prevalece a certeza de que o jogo é, agora, um espetáculo onde proliferam múltiplos interesses desportivos e, essencialmente, financeiros.