Diário do Alentejo

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Vítor Encarnação, professor

27 de janeiro 2022 - 10:45

O melhor que temos a fazer em relação ao tempo é não lhe ligarmos, o melhor é fazermos de conta que o tempo não manda em nada, nem no que já passou, nem no gerúndio, nem no que há de vir, temos de lhe retirar valor, de lhe diminuir a importância, de dizer que ele não passa de um relógio, de um calendário, de uma invenção humana. O mais ajuizado é não pensarmos muito nele, questioná-lo é um erro, valorizá-lo em demasia é o princípio da obsessão e da perda, o tempo tem essa capacidade de nos tornar seus escravos e de nos subjugar, o tempo é um labirinto que trazemos dentro da cabeça, ora nos perdemos na saudade do passado, ora duvidamos do presente, ora nos ralamos com o futuro. A cisma é uma porta aberta para o lado negro do tempo, pela cisma entramos no jogo do tempo e, obviamente, perdemos, ninguém, tirando alguns loucos e alguns génios, consegue jogar com o tempo e ganhar. Portanto, o melhor que temos a fazer é irmos vivendo a nossa vida, sem grandes aborrecimentos, sem grandes sonhos, discretos, vivendo a realidade tal como ela é, contentes com a superficialidade, adorando a simplicidade, os dias bonitos, comendo e bebendo e dizendo que isto é melhor que se leva desta vida, sabendo que um dia o coração há de parar e que de nós nada sobrará. Para a preservação da nossa saúde mental, a primeira coisa que nos deviam ensinar é que só conseguimos ganhar ao tempo se não jogarmos com ele.

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