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Luís Godinho, jornalista

24 de dezembro 2021 - 10:00

Resultado de um trabalho de campo efetuado junto de 4900 jovens, com idades compreendidas entre os 15 e os 34 anos, o estudo “Os Jovens em Portugal, Hoje” é elucidativo sobre a forma como estas faixas etárias preenchem os tempos livres: 43 por cento dizem preferir a visualização de filmes ou séries televisivas, 39 por cento referem encontros com os amigos e 27 por cento diz que o melhor mesmo é jogar em computadores ou consolas. Mais: 97 por cento dos jovens utilizam redes sociais, sendo que 29 por cento o faz mais de três horas por dia. Os livros (não só em papel) já fazem parte do passado, numa geração que, ainda assim, é a mais qualificada de sempre: dois em cada três jovens nesta faixa etária têm um nível de escolaridade igual ou superior à licenciatura e só três em cada 100 concluíram os estudos no 2.º ciclo do ensino básico.

 

A prossecução dos estudos é justificada pela expectativa de conseguir um melhor emprego, ou um melhor salário, sendo que apenas 12 por cento dizem estar a seguir “uma vocação”. Mas 36 por cento dos jovens entrevistados confessa não ter condições para continuar com os estudos universitários por uma de duas razões: ou falta de dinheiro; ou necessidade de trabalhar.

 

No que à política diz respeito, mais de metade (53 por cento) garante que vota em todas as eleições – só 14 por cento declara ser abstencionista convicto – e 87 por cento refere ter uma posição política claramente assumida, sendo que as mulheres se dizem mais de esquerda do que os homens. O meio preferido para se informarem da atualidade política e social, dizem, é a televisão, seguida da imprensa digital e das redes sociais.

 

A realidade não será idêntica em todas as regiões do País, haverá as diferenças, de resto habituais, entre o interior e o litoral, mas estes resultados permitem-nos extrair diversas conclusões, o que não é de somenos quando os diversos partidos políticos se abalançam na elaboração dos programas eleitorais com que se irão apresentar às próximas legislativas. É certo que os programas, em regra, obedecem a uma liturgia dos aparelhos partidários, nem sempre coincidindo com as expectativas dos cidadãos, mais ainda com as dos jovens destas faixas etárias.

 

Ainda assim, há no estudo indicadores preocupantes, porque reveladores de profundas desigualdades sociais, que não podem continuar a ser ignorados. A começar pelos 36 por cento de jovens que dizem não ter condições económicas para prosseguir os estudos, seja porque não conseguem suportar as despesas a que isso obriga (a começar pelo pagamento de propinas e pelo arrendamento de quarto), ou porque se sentem na obrigação de começar a trabalhar.

 

Segundo os autores do estudo, “quando todas as motivações económicas são analisadas em conjunto, observa-se que os motivos económicos são muito mais relevantes para não ter continuado no ensino superior do que para não ter completado o secundário ou pós-secundário”. Daí a importância de encontrar formas de não deixar ninguém para trás, até porque “ter um nível de escolaridade mais elevado garante aos jovens, tanto às mulheres como aos homens, uma melhor posição de partida na grande maioria das áreas da vida”.

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