Um destes dias, sentado no sofá, olhei para a minha estante de livros. Nada a distingue de outras estantes, livros que li, outros que não acabei, eu nunca acabo de ler livros de que não gosto. Reparei que não há uma ordem específica, talvez seja porque a vida mistura tudo e nada há de mais parecido com a vida do que os livros. Mas de todos tentei extrair o possível. O que eu consegui como leitor, o que os autores conseguiram como escritores. E apenas quando senti que fez diferença na minha vida, só quando eu e o autor articulámos saberes e emoções e tivemos uma experiência conjunta, nunca por críticas ou loas avulso, é que considero determinado livro um bom livro. Na minha estante também há um conjunto de livros de que eu gosto muito e pelos quais nutro um especial carinho. A maior parte dos autores são meus conhecidos, gente comum, às vezes quase anónima, gente que escreve e pinta por gosto e por paixão. Nesta parte da estante, chamemos-lhe a estante alentejana, confluem e convivem poesia, histórias de terras, histórias de pessoas, histórias de vida, histórias de morte, ficções, realidades, documentos, ilustrações, pensamentos, uns ruins, outros esperançosos, romances, contos, crónicas, modas. Cada livro que está na minha estante virada a Sul é uma prova viva de um contributo para a defesa da palavra, da cultura, da sensibilidade, do conhecimento e da identidade transtagana.