Diário do Alentejo

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Luís Godinho, jornalista

10 de dezembro 2021 - 16:10

Não é compreensível, nem aceitável, nem pode ser de qualquer forma justificado que há cinco décadas se fale na necessidade de ampliar o hospital de Beja sem que pouco, quase nada, tenha sido feito nesse sentido.

Reparem bem: ainda havia ditadura em Portugal, e ainda essa ditadura haveria de durar mais uns penosos quatro anos, e já se diagnosticava a necessidade de ampliar o Hospital José Joaquim Fernandes, acabadinho de inaugurar. Também é verdade que o impulso decisivo para a sua construção não foi dado pelo Governo mas por privados, no caso Carolina Almodôvar Fernandes, que em 1963 doou 14 mil contos ao Estado português, uma fortuna à época, para que fosse construído e inaugurado, no prazo de três anos e meio, um novo hospital em Beja. Se não tivesse sido assim, com impulso privado, o melhor seria esperar sentado. Não foram três anos e meio, foram sete, mas o hospital lá abriu portas, corria o ano de 1970, e já nessa altura era sinalizada a necessidade de ampliar o edifício para garantir uma maior eficácia e amplitude na prestação dos serviços de saúde.

E, bom, passaram-se 51 anos, sem vislumbre da tal segunda fase de construção, cuja urgência foi agora recomendada ao Governo num projeto de resolução aprovado na Assembleia da República. Em período de pré-eleições, a dias da dissolução do Parlamento e da entrada do Governo em modo de “gestão” [novo Governo só lá para março e Orçamento do Estado muito depois disso], o mais certo é o destino desta recomendação ser igual à de outra, aprovada no mesmo Parlamento e solenemente publicada em “Diário da República”, no ano da graça de 2018: o caixote das iniciativas esquecidas. Tem mais ou menos o valor da declaração solene da ministra da Saúde, feita em janeiro de 2020 quando, numa visita relâmpago a Beja, aproveitou a presença dos microfones dos jornalistas para jurar que o hospital seria “modernizado, quer em termos de respostas na área da imagiologia, quer em termos de ampliação”.

Quanto à imagiologia, Beja ainda continua a ser o único distrito do País sem ressonância magnética, agora anunciada para final do próximo ano, se tudo correr como previsto. Da ampliação, nem vê-la. Nem agora, nem nos próximos anos. Em primeiro lugar porque falta vontade política para a fazer. Depois, porque o projeto de ampliação elaborado há mais de 10 anos e enviado para a Administração Regional de Saúde do Alentejo precisa de ser revisto, e nem para isso há dinheiro. Finalmente, porque um contrato de 30 milhões de euros obriga a procedimentos concursais morosos [veja-se o exemplo do novo Tribunal de Beja].

Exigir que a obra se faça não é questão de pormenor. A ampliação é imprescindível para melhorar significativamente a capacidade de resposta do serviço de urgências, do bloco operatório ou da unidade de cuidados intensivos. Da “bazuca” europeia nada virá, embora lá estejam uns simpáticos 30 milhões para o Hospital Digital [leu bem, digital] dos Açores. Resta o próximo ciclo de fundos comunitários. Sem uma pressão política e social forte corremos o risco de a obra continuar na gaveta.

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