A noite é o luto que o céu põe por mais um dia morto. A noite é uma coruja com o silêncio colado nas asas. A noite é a parte de dentro do Sol. A noite é um cansaço que chega a casa e só vê televisão. A noite é a morte das cores, da profundidade e da distância. A noite é o corpo da Lua. A noite é o arrefecer dos pássaros. A noite é um poema negro com pirilampos que rimam. A noite é uma cama onde os homens e as mulheres sem sono se enrolam nas suas penas. A noite é o refúgio das pessoas errantes, dos amantes das palavras, das almas perdidas, dos amantes errantes, dos amantes perdidos, dos amantes traídos pelo amor, das palavras com alma, da alma das palavras, dos apaixonados sem alma, das almas sem pessoas dentro delas, das almas penadas, dos apaixonados que já não têm mais palavras, dos apaixonados traídos pelas palavras, dos artistas solitários, dos artistas perdidos, dos artistas errantes, apaixonados, traídos, quer pelo silêncio, quer pelas palavras, quer pela aflição do vazio, dos vagabundos da escrita, da escrita errante, da escrita perdida, da escrita solitária, da escrita sem alma dentro da alma vazia das pessoas perdidas, das pessoas solitárias, das pessoas amantes, das pessoas traídas, das pessoas amadas, das pessoas que não arranjam palavras para definir a paixão, das pessoas que amam a noite vagabunda. A noite. A noite é uma gata preta com candeeiros nos olhos.