Diário do Alentejo

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Luís Godinho, jornalista

06 de dezembro 2021 - 17:50

No ‘podcast’ do “Público”, a jornalista Maria João Guimarães explicou como é que tudo se está a passar, discretamente, sem fugas de informação que contaminem o processo negocial. As eleições realizaram-se a 26 de setembro e delas não resultou uma maioria para qualquer partido, longe disso.

Os sociais-democratas do SPD não foram além de 25,7 por cento dos votos, uma diferença de 1,6 pontos percentuais relativamente ao segundo partido mais votado, a CDU, até há bem pouco tempo liderada pela atual chanceler Ângela Merkel. De então para cá já se passaram quase dois meses. Dois meses durante os quais o partido mais votado tem estado a negociar com Os Verdes (14,8 por cento nas eleições) e com o Partido Liberal Democrata (11,5 por cento) uma solução de governo.

Qualquer semelhança com a realidade portuguesa é, já se vê, mera coincidência. Mas Maria João Guimarães explicou mais dois pormenores.

O primeiro é que o processo negocial envolveu a criação de 22 grupos de trabalho, nos quais participaram quase 400 representantes dos três partidos, de onde irão sair, área a área, as prioridades a inscrever no programa de governo.

O segundo é que só depois de estar definido o programa é que começará a negociação acerca dos nomes que irão integrar o governo e por uma razão simples de perceber: se, por exemplo, a prioridade a nível económico for a transição ambiental fará sentido que o Ministério da Economia seja entregue a Os Verdes; se a prioridade for o relançamento pós-pandemia, aí serão provavelmente os liberais a assumirem a pasta; ou mesmo o SPD se o que estiver em causa for um reforço do investimento público.

Resumindo: as eleições realizaram-se a 26 de setembro, há dois meses que decorre o processo negocial entre três partidos para “fechar” um programa de governo e, depois disso, só depois disso, é que se saberá o nome dos próximos ministros, cujo perfil será ajustado às prioridades para os próximos quatro anos. Ainda faltarão mais três semanas até chegar o momento em que os deputados serão chamados a votar para eleger o novo chanceler, i.e., até ao novo governo entrar em funções. Talvez a 6 de dezembro.

Não deixa de ser interessante acompanhar as notícias sobre a formação do governo na Alemanha ao mesmo tempo que em Portugal se desenham cenários pós-eleitorais para finais de janeiro, com todas as sondagens a perspetivarem, pelo menos por enquanto, uma situação equiparável à alemã, ou seja, antecipando a necessidade de acordos pós-eleitorais para garantir estabilidade governativa, particularmente importante numa fase de relançamento económico pós-pandemia, de aplicação do Plano de Recuperação e Resiliência, de fecho do atual Quadro Comunitário de Apoio e início de aplicação do próximo.

Mais do que impasses e crispação política, o País precisa é de entendimentos (à esquerda, à direita ou ao centro) sobre o caminho que quer trilhar. Não por acaso, o documento que identifica os objetivos e as prioridades da aplicação dos fundos comunitários até 2027 está em debate público por mais uma semana, ainda que isso passe despercebido no afã de guerras e guerrinhas.

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