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Luís Godinho, jornalista

17 de outubro 2021 - 07:00

Há problemas que, de tão recorrentes e tantas vezes trazidos para a praça pública, dão a sensação de serem irresolúveis. Quando, na verdade, não o são. O das fábricas de bagaço de azeitona, por exemplo, voltou a fazer capa na edição do “Diário do Alentejo” da passada semana, a propósito do documentário ““O Lado Negro do Azeite”, de Sandra Cóias e Pedro Rego, rodado na aldeia de Fortes, onde os habitantes são diariamente confrontados com emissões de fumos provenientes de uma fábrica de bagaço de azeitona. O filme passou esta semana no CineEco, um dos mais prestigiados festivais de cinema de temática ambiental.

 

“Não precisamos de ser especialistas em questões ambientais para, ao chegarmos a Fortes, percebermos que a vida ali é impossível de suportar. É difícil respirar. O fumo domina as vidas dos que lá sobrevivem, impedindo-os de terem uma existência condigna”, referem os realizadores. Mas não ficam por aqui. Numa posição, que partilho, Sandra Cóias e Pedro Rego dizem que este é o tempo “de pensar nas soluções e de voltar a dar alegria e vontade de viver” às gentes de Fortes. A estas e às de outras povoações afetadas por problemas idênticos, como Alvito.

 

Não é aceitável que problemas como este se arrastem anos e anos, por inoperância dos poderes públicos ou pelo tradicional “deixa andar”, filosofia de vida tão tipicamente portuguesa. Há soluções para os resolver.

 

Primeira solução: a tecnologia. Garantem os empresários que com a instalação de filtros de partículas “desaparecem as queixas que as populações normalmente apresentam”. Ou seja, os fumos e cheiros, o ar difícil de respirar. Trata-se de um equipamento caro, se visto na perspetiva dos empresários – cinco milhões de euros, no caso da fábrica de Alvito, que o deverá começar a usar em fevereiro do próximo ano. Mas de um ponto de vista do interesse público, o País tem de decidir se é ou não importante produzir azeite e exportá-lo. Sendo-o, existirá sempre o problema do bagaço da azeitona e não é preciso ser adivinho para prever que a laboração dos lagares poderá, dentro de semanas, ser posta em causa em virtude das dificuldades de escoamento das fábricas de transformação (esteve quase a acontecer na última campanha).

 

Existindo este problema, sendo importante produzir azeite, há que criar incentivos à aquisição dos ditos filtros, comparticipá-los, e resolver de vez a questão.

 

Segunda solução: a científica. Nem todo o bagaço de azeitona precisa de ser queimado. A EDIA, por exemplo, está a desenvolver unidades de recirculação para, através do sistema de compostagem, transformar subprodutos agrícolas e agroindustriais (como o bagaço de azeitona) em fertilizantes orgânicos. E uma empresa privada, a EntoGreen, anunciou o desenvolvimento de um projeto que utiliza insetos para transformar bagaço de azeitona em fertilizante orgânico para os solos, óleos e proteínas para alimentação animal.

 

Menos bagaço de azeitona a caminho das fábricas. Tecnologia para evitar as consequências mais nocivas do seu funcionamento. Será assim tão difícil de executar?

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