Para ir direto ao assunto: o próximo mandato autárquico em Beja e Moura será complexo e exige sensibilidade e bom senso aos diversos responsáveis autárquicos. Paulo Arsénio, de forma clara, e Álvaro Azedo, por margem mais reduzida, ganharam as eleições, sem maioria absoluta na Câmara nem na Assembleia Municipal. O que os obrigará a negociações permanentes com a oposição, cedendo nuns pontos, acolhendo propostas que não choquem com o respetivo programa eleitoral, fazendo da transparência do exercício do poder autárquico uma bandeira para os quatro anos que se seguem. Mas essa sensibilidade e bom senso para a negociação política não se esgota no partido que ganhou as eleições em Beja e Moura, o PS. Terão também de estar presentes nos vereadores e deputados municipais da oposição, a cada momento, a cada decisão que tenham de tomar no exercício dos respetivos mandatos.
Seria inadmissível que por “jogos florais” ou mera retórica político-partidária os concelhos de Beja e de Moura se vissem arrastados para discussões inconsequentes numa altura decisiva para a construção do futuro coletivo, com a execução do Plano de Recuperação e Resiliência e o arranque do novo ciclo de fundos comunitários, o Programa Alentejo 2030. Estabelecer plataformas de diálogo e articular posições conjuntas em relação aos temas estruturantes, sem prejuízo da identidade e das convicções ideológicas de cada um, não será assim tão difícil. Basta a vontade.
Acresce que em Moura há ainda um desafio suplementar: a necessidade de fazer um cordão sanitário em torno do Chega. Com três vereadores do PS e três da CDU, é natural alguém ponderar "vender a alma ao diabo" e fazer entendimentos, mais ou menos tácitos, com o partido da extrema-direita. Mas não é aceitável que socialistas ou comunistas o façam, tal como foi criticável a atitude do PSD quando, no rescaldo das eleições açorianas, não teve pejo em alicerçar um acordo de governo com base numa aliança com um partido conhecido pelo seu discurso racista e xenófobo. Os tempos que se avizinham são exigentes.
Com sensibilidade e bom senso, as divergências de opinião, sempre saudáveis num regime democrático, plural e livre, devem constituir a base de trabalho para o desenho de políticas e de projetos de desenvolvimento, sob pena de a região passar ao lado deste ciclo que agora se inicia. Já nos basta o centralismo de Lisboa e o de Évora, a permanente dificuldade em fazer ouvir a nossa voz, o constante "empurrar com a barriga" no que diz respeito às políticas de desenvolvimento regional. Já várias vezes aqui se escreveu sobre a necessidade de um amplo compromisso em torno de uma estratégia que promova a atratividade do território e a melhoria das condições de vida de quem o habita. Realizadas as autárquicas, escolhidas as equipas, sem eleições no horizonte próximo (as legislativas só deverão ocorrer daqui a dois anos), talvez este seja o momento certo para o fazer.