Diário do Alentejo

Mudar de canal
Opinião

Mudar de canal

Vítor Encarnação, professor

25 de setembro 2021 - 07:00

Mudar de canal

 

Um dos propósitos fundamentais da educação, do conhecimento e da arte é distanciar os seres humanos dos seus instintos mais primitivos. A organização das sociedades em estruturas de ensino e educação e a exaltação das sensibilidades artísticas, mais não é do que o caminho que pretende levar ao gradual afastamento dos nossos impulsos básicos que, por sermos animais, estão geneticamente presentes e ativos em todos nós.

 

As sociedades, aplicando a sua ética, a sua moral, os seus sistemas políticos, jurídicos e educativos, regulam a forma como cada pessoa deve desenvolver capacidades cognitivas e intelectuais que reduzam o uso do chamado cérebro reptiliano. Ter conhecimentos históricos, científicos, filosóficos, geográficos, teológicos, biológicos, antropológicos, saber interpretar o seu corpo e a sua mente, entender o mecanismo da sua sexualidade, preservar a identidade individual e coletiva, são ao mesmo tempo direitos e deveres de todos os cidadãos.

 

A forma ligeira e fútil como alguns programas de televisão apresentam as pessoas, a forma como as pessoas neles se envolvem e se deixam apresentar, a maneira como o corpo, principalmente o feminino, é exposto, o modo como a língua portuguesa é tratada, o conteúdo das conversas, a patetice, a boçalidade, a aflitiva sensação de retrocesso, vêm demonstrar que o retorno aos nossos instintos básicos é, afinal, um caminho muito curto.

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