Diário do Alentejo

Homenagem a António dos Anjos
Opinião

Homenagem a António dos Anjos

José Saúde, jornalista

24 de setembro 2021 - 17:00

 

Homem generoso, cordial, idóneo, compreensível com o mundo que o rodeia, cortês, benfeitor em servir desinteressadamente o seu povo, figura ilustre que esteve na linha da frente no palco desportivo da terra que o viu nascer, varão de célebres decisões, aos 14 anos foi candidato a jogador da bola, mas desde logo percebeu que tinha pouco jeito e, conscientemente, abandonou essa maravilha futebolística apaixonando-se então pelo hóquei em patins, jogando na rua com ‘sticks’ feitos com paus de palmeira.

 

Em 1 de abril de 1953, um grupo de amigos fundou o atual Futebol Clube Castrense e um dos seus criadores, José Colaço, assumiu a condição de treinador e António dos Anjos a de adjunto. Cidadão exemplar, marcado por uma extrema humildade, António dos Anjos é tão-só um fidalgo de uma gigantesca dedicação ao associativismo, sendo que essa agigantada vontade própria resvala para a enquadrada magnitude de um inteligível universo.

 

Apaixonado pelo Sporting Clube de Portugal, não perdia uma oportunidade para ouvir os relatos do emblema da sua simpatia, onde os “cinco violinos” marcaram velhos e nobres tempos. Sendo que a pessoa de que honradamente falamos foi um dos colossais impulsionadores na concretização de uma secção de hóquei em patins em Castro Verde.

 

Um sonho antigo que lhe ia na alma e que se tornou numa inequívoca realidade. Vivia-se em Portugal a emoção do 25 de Abril de 1974, a Revolução dos Cravos, que trouxe à nação uma indesmentível ambição para a concretização de componentes desportivas que viviam sob as trevas de um Estado Novo que as sonegava e não permitia devaneios aos mais usados crentes em materializar tão airosa componente atlética em toda a sua dimensão.

 

Assim sendo, no ano de 1980, e com o País a respirar exímios polos da liberdade, António dos Anjos comandou a linha da frente castrense, onde outros admiradores do cosmos da patinagem por lá também militavam, e solicitou à Câmara um subsídio de 150 contos, tendo em conta a implementação da idealizada modalidade na localidade. António dos Anjos, com a verba autárquica doada, arregaçou as mangas, avançou para o terreno e o ambicionado projeto consumou-se.

 

Hoje, em Castro Verde, vive-se abertamente o mundo da patinagem. O Futebol Clube Castrense, agremiação com a qual sempre colaborou, tornou-se um símbolo, os atletas evoluem a bom ritmo e nas mais recônditas planícies do Campo Branco florescem muitos dos seus briosos atletas. No pretérito dia 12 de setembro, domingo, a Câmara Municipal de Castro Verde homenageou, e com merecidíssima equidade, António dos Anjos, atribuindo o seu nome ao pavilhão municipal. E é neste horizonte de extrema dignidade que se perpetuam gentes que ficarão eternamente memorizadas pelo muito que fizeram em prol de propósitos conquistados. António dos Anjos é um exemplo de fidedignos dirigentes que, metaforicamente, parecem em vias de extinção

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