Diário do Alentejo

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Luís Godinho, jornalista

25 de setembro 2021 - 09:00

Independentemente de as candidaturas serem de esquerda ou de direita, de estarmos a falar de concelhos pequenos ou de maior dimensão, de se tratar de gente com muitos anos de vida política ou de quem se estreia nestas lides, há um conjunto de preocupações comuns a todas as candidaturas, sobre o qual vale a pena refletir. Um primeiro problema, identificado pela generalidade dos candidatos, prende-se com o despovoamento do Baixo Alentejo: se retirarmos Odemira da equação (já lá iremos), o Censos revela que o distrito de Beja tem hoje menos 11.805 habitantes do que em 2011; uma quebra populacional a rondar os 9,3 por cento.

 

Este é um problema sério que, como já aqui se escreveu, traduz o desdém com que a partir de Lisboa se olha para o interior do País e exige a adoção de medidas eficientes no sentido de tornar o território atrativo para a fixação de pessoas. É, justamente, uma preocupação comum a todos os candidatos. Mesmo em Odemira, cujo concelho se aproxima dos 30 mil habitantes, o declínio demográfico é evidente em freguesias mais rurais: Santa a Clara-a-Velha, por exemplo, perdeu 27,6 por cento da população e Colos tem menos 22,6 por cento de moradores.

 

Uma segunda preocupação, também ela comum há generalidade dos candidatos às eleições de domingo, prende-se com uma questão que, até há bem pouco tempo, estava completamente arredada do debate político: a habitação. A disponibilização de casas, para compra ou arrendamento, a preços que as famílias possam pagar é absolutamente vital para estancar a sangria demográfica dos territórios do interior.

 

Sendo um direito constitucionalmente consagrado, a habitação foi sempre deixada para um segundo plano, entregue ao todo-poderoso funcionamento do mercado, com intervenção mínima do Estado. O resultado está à vista: faltam casas, as existentes têm preços absurdos e centenas de imóveis apodrecem, abandonados no interior dos centros urbanos.

 

Um terceiro problema também comum a todo o território, e a todas as candidaturas, prende-se com a necessidade de algum investimento em infraestruturas, sejam estradas, parques para instalação de empresas, equipamentos de saúde, entre outras. Há uns anos, este seria o capítulo mais longo de todos os programas eleitorais. Já não o sendo, há ainda um conjunto de investimentos que é necessário pôr em marcha, enquadrando-o no próximo ciclo de fundos comunitários.

 

Despovoamento, habitação, infraestruturas. Havendo um amplo consenso sobre a necessidade de priorizar estas áreas, há um silêncio sobre outra temática absolutamente crucial para o nosso futuro coletivo, e estranhamente ausente do debate autárquico: o ambiente. Como é que os territórios se podem preparar para mitigar os efeitos das alterações climáticas? E que medidas concretas estão os municípios disponíveis para assumir, no imediato, no sentido de promover a construção de um futuro mais sustentável, por exemplo reduzindo a presença do automóvel nas nossas vidas.

 

Apresentadas as propostas e os candidatos, cabe a cada um de nós refletir sobre as opções que melhor servem o desenvolvimento de cada concelho e optar. Votar, pois claro.

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