Diário do Alentejo

Piense
Opinião

Piense

José Saúde, jornalista

27 de agosto 2021 - 12:00

As liças testadas ante as realidades desportivas conhecidas nas paragens sul alentejanas, a que acresce à narrativa a bagatela de uma dinâmica porventura hercúlea que jamais se evacuará de uma montra onde se concentram imagens memoráveis, leva-nos a constringir estímulos que se concentram no prazer em divulgar pequenas histórias que os adeptos teimam em admirar e nós arriscamos restaurar. A familiaridade que há muito nos move pela dedicação inevitável a uma causa onde se guardam inolvidáveis relatos, remete-nos para estórias do antigamente que parecem agora meros esboços de um teórico filme de ficção.

 

O desporto, no seu todo, ganhou uma inexorável dimensão. Cresceram as infraestruturas, evoluíram as capacidades dos atletas, desenvolveram-se temáticas outrora impensáveis, progrediram outros saberes, vieram novas veracidades e o fenómeno expandiu-se integralmente pelo mais preconizado e distante lugar. O presente assemelha-se rigorosamente como uma antítese do passado.

 

Falemos do Piense Sporting Clube. Após a sua fundação, a 30 de novembro de 1933, o Piense reforçou-se com alguns jogadores de futebol de Serpa. O Baletas, o Tijoleiro, o Catrapulha, o Carrão, o Fernandinho e o Barrocal formaram a ala magna de reforços oriundos da então “Notável Vila” como justamente a sua heráldica acentuava com a devida vénia e honra.

 

Francisco Véstia era, na altura, um dos raros sobreviventes desses tempos áureos do Piense e que se predispôs a uma conversa a dois sobre o mítico clube da margem esquerda do Guadiana. Naquele tempo, dizia-me ele, “nós entrávamos em campo sempre bem alinhados, ou seja, à frente ia o guarda-redes com a bola na mão, depois iam o ‘back’ direito, atrás o ‘back’ esquerdo, o ‘alfa’ direito, o ‘alfa’ centro, o ‘alfa’ esquerdo, o ponta direita, o meia ponta direita, o avançado centro, o meia ponta esquerda e o ponta esquerda”.

 

Curiosidades de histórias contadas que nos transportam para o campo da saudade e, sobretudo, para as raras preciosidades que, felizmente, guardo na gaveta onde se concentram lembranças que paulatinamente faço questão de trazer a público. Esta viagem, aparentemente sinuosa, é tão-somente a demonstração provada que o desporto sempre caminhou sobre uma autoestrada de sistemáticas inovações.

 

Recorde-se que o emblema de Pias evoluiu desalmadamente no tempo, teve os seus períodos áureos, andou pelo futebol nacional, acumulou êxitos, viu o seu campo contemplado com relva natural, construíram-se novas infraestruturas, por lá militaram excelentes jogadores que conduziram ao rubro as cores do clube, o povo vivia entusiasticamente o seu Piense, mas tudo se terá esvanecido por razões obviamente aceitáveis. Agora, soou a notícia que para a época 2021/22 o grémio voltará à competição no escalão de seniores.

Comentários