Diário do Alentejo

Igualdade de género
Opinião

Igualdade de género

Carlos Alberto Cupeto, professor universitário

05 de agosto 2021 - 09:25

Há cerca de um ano a casa onde trabalho constituiu um grupo de trabalho para estudar/garantir a igualdade de género.

 

Um pacato cidadão democrata liberal de direita, cristão, do sexo masculino, branco, que trabalha, tem tudo para ser discriminado e não perceber a questão da igualdade de género. Nem aqui na Universidade nem lá fora. Sempre me regi por deveres e direitos e por uma inata e rigorosa prática de uma coisa que se chama Direitos Humanos, e isto me basta. Respeito também a natureza. Assim, o “bom dia a todos e a todas” é de um ridículo que me diz que andam a estragar o dinheiro dos meus impostos. Admitindo a minha ignorância, como sempre faço e se aconselha na Universidade, participei numa reunião liderada pelos colegas, entre eles um amigo, do tal grupo de trabalho designados para estudar a igualdade de género na Universidade de Évora.

 

Começaram por dizer que o objetivo da reunião era aprofundar o diagnóstico, já realizado, e produzir um documento habitual neste tipo de organização: habitual? Desde logo suspeitei que estava ali para cumprir um caminho que “fica bem”. Do lado de cá estavam cerca de 10 docentes e investigadores, curiosamente, oriundos de diferentes áreas do saber, das ciências, humanidades e artes. Como estou cá há muito tempo e fiz por aí algumas coisas, conhecia-os a todos, exceto a primeira interveniente que, numa postura de nítida revolta e indignação, questionou por que razão na Universidade nos “papéis não consta professores e professoras?”. Excelente começo. Vale mesmo a pena gastar energia elétrica durante duas horas numa sala para isto. Os cerca de 2,5 milhões de portugueses pobres (com a pandemia mais 400 mil) estão muito interessados e dependentes destas palermices. Todavia, a seguir, felizmente a coisa subiu de nível. Uma colega trouxe o tema da gravidez, uma desigualdade exclusiva das mulheres, que muitas vezes não é bem aceite, pelas próprias colegas, porque a ausência por maternidade vai acarretar mais trabalho para os restantes. Falou-se ainda da discriminação marginal e oculta que na penumbra das organizações vai acontecendo e não aparece, obviamente, nos relatórios.

 

O tema da gravidez é excelente para dar razão ao que os meus olhos veem. Não tenho dúvida que há pressão inaceitável sobre as mulheres que querem ser mães. Há uma lei, não sei qual nem me interessa, que contempla esta situação de ausência temporária do trabalho para ser mãe e manda contratar um substituto. Acontece que nem aqui, nem na generalidade das organizações públicas esta lei é cumprida. Isto é, o que todos sabemos, o “santo” Estado é sempre o menos cumpridor das leis que produz. Obviamente que o não cumprimento da lei assenta na falta de meios financeiros para contratar substitutos temporários. Como nós, o nosso Estado é pobre, e como não há milagres, “o dinheiro não cai do céu”. O pior é que estamos cada vez mais pobres. Já deram por isso? Lamento, mas grupos de trabalho como este contribuem para esta triste verdade. Quando se tem pouco é bom que se seja muito seletivo na escolha que se faz para gastar o dinheiro.

 

Conclusão: depois de todos os documentos produzidos e da monitorização não se vai resolver discriminação nenhuma.

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