A realidade é das coisas mais subjetivas que existem, dizia o homem sentado na esplanada. Nada é tão desprovido de substância como os factos invocados por partes antagónicas, os olhos de uma parte veem claramente o que os outros não conseguem, ou não querem, ver. O que parece ser exato e indiscutível resulta apenas da nossa aprendizagem e da nossa perspetiva. Se deixarmos de lado o amor pelo saber, e, particularmente, pela investigação das causas e dos efeitos, se não fizermos uma análise lógica e racional de tudo aquilo que é relevante para a existência humana, individual e coletivamente, com base na compreensão do ser e do universo, se nos ligarmos apenas ao que é tangível, visível, palpável, se só cuidarmos de conhecer o que há no nosso grupo, na nossa rua, no nosso tempo, a nossa argumentação, mesmo que seja aos berros e aplaudida em transe, será sempre rudimentar. Há em nós, fruto da nossa educação, uma predisposição e um preconceito que nos levam a concluir inequivocamente tudo muito mais depressa do que seria desejável. E essa conclusão sem remissão, apenas baseada em pressupostos, nunca aceita o que é diferente. A nossa ideologia, o nosso partido, a nossa religião, o nosso clube, dão-nos uma especial capacidade de só vermos o que nos interessa. A realidade está dentro de cada cabeça. Basta conseguirmos entrar dentro delas e manipulá-las para que tudo se torne mais real.