Diário do Alentejo

E o mundo rendeu-se
Opinião

E o mundo rendeu-se

José Saúde, jornalista

23 de julho 2021 - 09:50

Já lá vão 37 anos quando a 2 de julho de 1984 o mundo se rendeu a um feito que levou anos a conhecer um outro protagonista. Fernando Mamede, em Estocolmo, Suécia, batia o recorde do mundo na distância de 10 mil metros com o tempo de 27:13.81, deixando para trás o seu companheiro de sempre nestas andanças atléticas, Carlos Lopes. À passagem dos sete mil metros o bejense adiantou-se e ninguém mais o alcançou. Fernando Eugénio Pacheco Mamede nasceu em Beja no dia 11 de novembro de 1951 e o atletismo foi o seu cosmos. O nosso conhecimento reporta-se à infância. Jogámos futebol nos juvenis do Despertar e fomos antigos alunos da Escola Industrial e Comercial de Beja, sendo, também, ex-pupilos do professor de educação física Rony.

 

Recordo a sua quão valiosa arte para o universo das corridas. Nós, garotos, víamos no Mamede um craque. Nas tardes de quarta-feira e sábado cheguei a correr ao seu lado nas voltas interiores à nossa escola. Voltas onde só raríssimos companheiros de jornada o acompanhavam nas suas já longas passadas. O Vítor Santos lá lhe dava luta. Num campeonato distrital de corta-mato, em Moura, conquistou a primeira vitória num pecúlio imensurável. Perante o rol de triunfos ao serviço da Mocidade Portuguesa, ei-lo, com 18 anos, e pela mão do saudoso professor Moniz Pereira, a assinar contrato com o Sporting Clube de Portugal.

 

Falar sobre o Fernando Mamede é enaltecer um recordista de distinta elite. A um recorde mundial, três europeus e 27 nacionais, honraram um pecúlio que lhe fora literalmente inquestionável. Sintetizemos: um recorde mundial de 10.000 metros; três recordes europeus de 10.000 metros; dois recordes nacionais de 5.000 metros; dois recordes nacionais de 3.000 metros; um recorde nacional de duas milhas; dois recordes nacionais de 2.000 metros; seis recordes nacionais de 1.500 metros; um recorde nacional da milha; um recorde nacional dos 1.000 metros; cinco recordes nacionais de 800 metros; um recorde nacional de 500 metros; dois recordes nacionais nos 4x1500 metros; dois recordes nacionais nos 4x800 metros e um recorde nacional de 4x400 metros.

 

Importa, ainda, trazer à estampa o seu curriculum como júnior: dois recordes nacionais de 4x400 metros; dois recordes nacionais de 400 metros; um recorde nacional de 500 metros; quatro recordes nacionais de 800 metros; um recorde nacional de 1.000 metros e um recorde nacional de 1.500 metros.

 

Observando a esplêndida veracidade, é caso para citar que estamos perante irreversíveis conquistas que fizeram dele um recordista de suprema primazia. O que lhe faltou foi uma medalha nos Jogos Olímpicos, um evento onde registou três presenças: Munique, 1972, Monte Real, 1976 e Los Angeles, 1984. Aqui, o recordista não impôs as suas autênticas competências quando o tema era medalhas. Corria e as pernas recusavam a sua habitual cadência. Ficou a mágoa. Não obstante essa contrariedade, a sua maravilhosa história desportiva ficará eternamente chancelada a letras de ouro.

Comentários