Diário do Alentejo

A proximidade, marca de humanismo do poder local
Opinião

A proximidade, marca de humanismo do poder local

Marcelo Guerreiro, presidente da Câmara de Ourique

22 de julho 2021 - 17:10

A pandemia afetou as nossas dinâmicas individuais e comunitárias, condicionando as marcas do exercício de funções públicas nos territórios junto das pessoas. Aliás, a pandemia e os seus impactos estão a ser pretexto para ações de racionalização dos recursos, por exemplo, na banca, que não podem ter projeções nos territórios de baixa densidade, em que a população é mais envelhecida e precisa de todas as respostas possíveis para o seu bem-estar.

 

A proximidade é um pressuposto de humanismo, de respeito pela dignidade humana, pelo acesso a bens e serviços essenciais, que em territórios mais descontinuados, em contexto rural, assume uma relevância fundamental para a coesão social e territorial.

 

Em Ourique, a proximidade é um pilar das políticas municipais, porque ajuda a decidir melhor, a estar sintonizado com as pessoas e com os territórios, porque os serviços públicos têm de chegar para que ninguém fique para trás.

 

O mundo rural sempre se fez de proximidade, de equilíbrios próprios e de solidariedade entre as pessoas que perfazem as comunidades. Nos tempos em que o Estado faltou e as autarquias não podiam acorrer a tudo, foi a proximidade que permitiu a resiliência, a sobrevivência e a superação das dificuldades do campo.

 

O sentido de proximidade tem de continuar a estar presente nas ações, na vontade política dos diversos patamares de poder e nos recursos disponibilizados para concretizar soluções para as pessoas e para as nossas terras. Naturalmente, com rigor, sustentabilidade e eficácia.

 

Valorizar o interior e o mundo rural é também assumir a importância da proximidade, das respostas e das soluções como instrumentos de combate à pobreza, à exclusão, ao isolamento e à qualidade de vida. Soluções de proximidade contribuem para a fixação da população, para os que já se encontram nos territórios e para os que possam ser atraídos para o interior em função das novas realidades laborais e da procura de novos estilos de vida por parte de quem vive nos grandes centros urbanos.

 

Portugal continua a ter grandes desafios estruturais, que resultam do passado, e novos desafios referentes às consequências da pandemia e às grandes opções de futuro em matéria de sustentabilidade, de alterações climáticas e de transição energética e digital.

 

Em momento algum pode haver a ideia ao nível central de que a transição digital, de que as soluções digitais naturalmente ao alcance de qualquer um que tenha os equipamentos e as redes de comunicação podem substituir a expressão física de proximidade que os autarcas e os serviços públicos asseguram e devem continuar a assegurar nos territórios de baixa densidade com o perfil populacional que temos.

 

O País, como um todo, precisa de manter mínimos de proximidade no acesso a bens e serviços essenciais. Houvesse maior proximidade à realidade e seria fácil entender que o processo legal de decisão tem de estar mais próximo das dinâmicas e das necessidades reais.

 

O mundo rural de Ourique e do Baixo Alentejo vai continuar a exercitar a proximidade às pessoas e às nossas terras como pilares do poder local democrático, assim sejamos acompanhados na vontade, na ação e nos recursos por outros patamares de decisão.

 

Em defesa de respostas de proximidade para os territórios de baixa densidade, continuaremos a trabalhar, como sempre, ao lado das pessoas, agora com as precauções que a pandemia ainda vai impondo. A proximidade é o futuro.

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