Diário do Alentejo

1.º Direito
Opinião

1.º Direito

Luís Godinho, jornalista

08 de julho 2021 - 14:50

Há todo um conjunto de carências há muito identificado para a cidade de Beja, e também para o Baixo Alentejo, em torno do qual existe um consenso amplo do ponto de vista político, social e económico: é a imperiosa melhoria das acessibilidades rodoviárias, a eletrificação da linha de caminho de ferro entre Beja e Casa Branca e a reabertura da ligação à Funcheira, isto é, retomar a ligação ao Algarve, é o aproveitamento do Aeroporto de Beja na sua vocação industrial, em articulação com o Porto de Sines. Sucede que o caderno de encargos não se esgota nestes três temas.

 

A mitigação das consequências das alterações climáticas terá, sempre, de estar na primeira linha das prioridades, e deste ponto de vista é muito relevante a recente criação da associação Estação Biológica de Mértola, envolvendo parceiros regionais e nacionais (entre os quais a Universidade do Porto), e que será um importante instrumento para a promoção da investigação científica aplicada e transferência de conhecimento e tecnologia de suporte a estratégias territoriais de conservação da biodiversidade e transição agroecológica em contexto climático mediterrânico, de elevada vulnerabilidade às alterações climáticas e desertificação.

 

Na verdade, o aquecimento global deve ser encarado como uma das duas grandes condicionantes ao desenvolvimento regional. Como em tempos referiu Eugénio Sequeira, antigo presidente da Liga para a Proteção da Natureza, “salvar o montado é salvar todo o sul do País. Se o sul não tiver suporte para defender o montado da seca, o deserto chega a Lisboa". Trata-se, pois, de um imperativo nacional. A outra grande prioridade é o combate ao despovoamento e ao envelhecimento de todo este território.

 

“Somos uma região que tem perdido população nas últimas décadas, somos uma região muito envelhecida, mesmo dentro do contexto nacional, que também é um País envelhecido, e somos envelhecidos não só porque temos um grande número de pessoas em idades mais avançadas, mas também porque tivemos uma redução muito grande do número de nascimentos durante várias décadas”, constata a demógrafa Maria Filomena Mendes, sublinhando a importância de fixar imigrantes para “rejuvenescer a população”. Um território desertificado, despovoado e envelhecido não é sustentável, não por mais estradas, caminhos de ferro ou aeroportos que existam. E é aqui que chegamos a outra das apostas absolutamente estratégicas para o futuro do Baixo Alentejo: a habitação, cuja estratégia se encontra plasmada no Programa 1.º Direito. Não se trata apenas (e só isso já seria muito) de promover habitação condigna para quem não a tem.

Comentários